
A recuperação da economia brasileira tende a ser um processo lento. É o que aponta o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2016, que recuou 0,8% em relação ao trimestre anterior. Um dos setores que puxou a queda foi a indústria nacional. O setor registrou queda de 1,3% no mesmo período, conforme dados divulgados no dia 30 de novembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para mudar o cenário e tornar o setor industrial mais competitivo, o caminho pode estar na geração de tecnologia de ponta na cadeia produtiva.
Nesse sentindo, o Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs) tem papel relevante. Isso porque o espaço é destinado exatamente à geração de tecnologia de ponta para a indústria, onde são realizadas pesquisas aplicadas em TIC, com infraestrutura e equipamentos equivalentes aos Centros de Pesquisa e Desenvolvimento mais avançados do mundo, além de contar com um corpo de pesquisadores de alto nível e uma ampla rede de parceiros.
De acordo com Sérgio Soares, diretor do ISI-TICs, a instituição executa os projetos, e também atua na elaboração, captação de recursos externos e na gestão de inovação de maneira ampla.
“Apesar de seu foco principal serem as Tecnologias da Informação e Comunicação, o ISI-TICs se vale de sua vasta rede de parceiros para construir equipes multidisciplinares e executar projetos em quaisquer áreas do conhecimento”, explica.
Ele ressalta que há dois grandes desafios no desenvolvimento conjunto de projetos de P&D entre os Institutos SENAI de Inovação e as empresas. Em primeiro lugar, está a cultura de inovação no Brasil, onde ainda há receio em se investir em inovação ou de aplicar o conceito de open innovation orientado a parcerias e colaboração em rede. Já o segundo está na dificuldade de obter recursos para inovação, em especial para as pequenas e médias empresas.
A seguir é possível conferir a entrevista completa com Sérgio que, ainda, ressalta a tendência da internet das coisas e também o conceito de Indústria 4.0 e Manufatura Avançada.
Qual o escopo de atuação do Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs)?
O ISI-TICs atua na execução de projetos de inovação junto à indústria brasileira. O instituto não apenas executa os projetos, mas também atua na elaboração, captação de recursos externos (BNDES, FINEP, CNPq, CAPES, FAPs, etc.) para fomentar as iniciativas e na gestão de inovação de maneira mais ampla. Apesar de seu foco principal serem as Tecnologias da Informação e Comunicação, o ISI-TICs se vale de sua vasta rede de parceiros para construir equipes multidisciplinares e executar projetos em quaisquer áreas do conhecimento. Essa rede é composta por 25 Institutos SENAI de Inovação (http://bit.ly/InstitutosInovacaoSENAI), mais de 50 Institutos SENAI de Tecnologia, dezenas de centros especializados do SENAI, além de um conjunto de instituições externas à entidade, como universidades e centros de pesquisa dentro e fora do Brasil.
Quais os desafios de um desenvolvimento conjunto de projetos de P&D entre os Institutos SENAI de Inovação e as empresas? Na sua visão, como esses desafios podem ser superados?
Elencaria pelo menos dois grandes desafios. Em primeiro lugar, a cultura de inovação no Brasil, onde falta entendimento por parte de empresas e empresários sobre o conceito de inovação, há um grande receio em se investir em inovação ou, ainda, o receio de aplicar o conceito de open innovation orientado a parcerias e colaboração em rede, o que potencializa o processo como um todo.
Em segundo lugar, está a dificuldade de obter recursos para inovação, em especial para as pequenas e médias empresas. De fato, é necessária uma política de inovação que não apenas traga recursos financeiros para inovação, mas que também favoreça a criação e o desenvolvimento de empresas inovadoras, garantindo possibilidade de competirem no mercado global, mesmo que seja por meio de questões fiscais, trabalhistas, etc. É necessário um tratamento separado para lidar com a inovação, que exige velocidade e eficiência nos trâmites de contratação, aquisição, importação, entre outros. O Marco Legal de Inovação é um avanço, mas alguns pontos importantes foram vetados pelo Executivo, como a possibilidade de as Instituições de Ciência e Tecnologia privadas (as públicas podem) fornecerem bolsas de pesquisa para execução de projetos de inovação.
Quais foram as principais tendências do setor de Tecnologia da Informação abordadas em 2016 nos projetos? Qual o futuro desse setor?
Hoje é cada vez mais visível a quantidade de equipamentos e dispositivos em geral conectados. Essa tendência, trazida pela Internet das Coisas (IoT) ou Internet de Tudo é uma realidade sem volta. Segundo a Gartner, em 2016 mais de seis bilhões de “coisas” estiveram conectadas e a previsão para 2020 é de quase 21 bilhões de “coisas” conectadas. Existem grandes desafios decorrentes dessa realidade, como questões associadas à segurança, privacidade, armazenamento, transmissão e processamento dos dados para gerar informações úteis. Muitos desses dispositivos e também desafios estão relacionados a outro conceito mais abrangente, o de Cidades Inteligentes (Smart Cities), que inclui a indústria, os serviços, privados e públicos, em especial segurança, saúde e mobilidade.
Quais os principais gargalos tecnológicos na área de TICs? Como projetos dos Institutos do SENAI, em parceria com empresas, poderiam suprir os gargalos?
Atualmente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do SENAI, faz um grande investimento ao lidar com o conceito de Indústria 4.0, termo cunhado pelos alemães, e de Manufatura Avançada, termo cunhado pelos americanos. A ideia é aumentar a produtividade e eficiência das indústrias, por meio do aumento da automação das linhas de produção, onde os equipamentos devem ser conectados, e decisões sobre seu funcionamento, tomadas em função dos dados gerados. Além disso, toda a cadeia de valor associada, incluindo a solicitação dos pedidos, fornecedores, e entrega dos produtos, também está envolvida, permitindo, em último caso, a manufatura de um produto não apenas sob demanda, mas customizado especificamente para um pedido, possivelmente único. Para lidar com esse cenário, não apenas as indústrias ainda têm muito a evoluir, mas toda a cadeia de valor no seu entorno, e as TICs têm um papel crucial nessa evolução.
Quais são as principais fontes de fomento utilizadas atualmente pelas empresas que buscam parceria com os Institutos SENAI de Inovação?
Existem fontes de fomento que até são desconhecidas pelas empresas, parte do problema cultural já mencionado. Existem benefícios fiscais, como a Lei do Bem, a Lei de Informática, e programas de incentivo como o Inovar-Auto, que devem ser aplicados em inovação, além de obrigações de investimento em P&D de setores como o de Energia (ANEEL) e o de Petróleo e Gás (ANP). Além disso, instituições que tradicionalmente possuem recursos (via editais e uso de financiamento) para apoiar inovação são BNDES, FINEP, CNPq, CAPES, FAPs estaduais e outras agências de fomento estaduais. Existe ainda o edital SESI SENAI de Inovação, que utiliza recursos próprios para apoiar o desenvolvimento de projetos de inovação com indústrias e startups de base tecnológica (http://bit.ly/EditalSENAI-Inovacao).

Sérgio Soares
concluiu o doutorado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2004. Atualmente, é diretor do Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs) e professor adjunto do Centro de Informática da UFPE. Orienta trabalhos de doutorado e mestrado na área de Computação e coordena/coordenou projetos de desenvolvimento, pesquisa e inovação financiados por SENAI, CNPq, FACEPE, FINEP, Petrobras e pela Lei de Informática. É coordenador executivo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INES) para Engenharia de Software e Diretor de Articulação com Empresas da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), da qual é associado desde 2002. Atua na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de Software, principalmente nos seguintes temas: Engenharia de Software Experimental, Modularidade de Software, Linhas de Produto de Software e Desenvolvimento de Software Orientado a objetos.