O setor elétrico no Brasil, nos últimos anos, vem passando por um considerável processo de modernização, por meio do uso de novas tecnologias, novos modelos de negócios e serviços. Mesmo sendo um país de fonte energética predominantemente limpa (pela forte matriz hidrelétrica), novos desenvolvimentos são necessários, considerando, por exemplo, a necessidade de modernização de usinas geradoras de energia, transição para fontes eólicas e solares, hidrogênio verde, além de outas demandas que surgem com novos modelos de comercialização de energia.
Neste contexto, o investimento em inovação para o setor de energia vem se mostrando um tanto quanto promissor pois, além de propor métodos de geração de eletricidade mais baratos, os projetos estão sendo pautados por uma agenda socioambiental estratégica para o país.
Setor estratégico para o país
Conforme o Plano Nacional de Energia de 2050, também do MME (Ministério de Minas e Energia), o setor de energia elétrica deve crescer 3,3 vezes até 2050. Além disso, almeja-se uma transformação até 2050 de maneira mais equitativa e próspera, que seja eficiente e competitiva, produzindo zero emissões líquidas de gases de efeito estufa. A capacidade global de energia renovável deve aumentar para 320 gigawatts, o equivalente a uma quantidade que atenderia toda a demanda de eletricidade da Alemanha ou se igualaria à geração total de eletricidade da União Europeia a partir de gás natural. Em termos de comparação, em 2021, houve um recorde de 295 gigawatts de capacidade desse tipo de energia.
A capacidade adicional do uso de fontes renováveis, em 2022 e 2023, tem o potencial de reduzir significativamente a dependência do gás russo no setor de energia, no contexto europeu. O Analista de Negócio do Instituto Atlântico, Daniel Colaço, explica que em paralelo a isso, com a adesão de 190 países aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU, acelerou-se o processo de transição energética e aumentou a importância deste setor, fazendo com que a produção de energia por fontes limpas aumente e o uso de combustíveis fósseis diminua.
Para que isso seja possível, a legislação atual se adequa ao cenário do mercado, bem como fomenta a parceria com a Academia e os Institutos de Ciência e Tecnologia. Com isso, temos uma estratégia de transição energética que está pautada no que chamamos de energia 3D: Descentralizada, Descarbonizada e Digitalizada.
“Os 3 “Ds” mostram uma tendência do uso mais eficiente dos recursos energéticos, da redução do uso de combustíveis fósseis como fonte de energia, bem como uma maior automação e digitalização de processos, controles e serviços. Dessa forma, temos o aumento da eficiência energética e da confiabilidade e segurança do sistema elétrico, assim como a diversificação e melhoria dos serviços das empresas que atuam no setor.
Por fim, a pesquisa de fontes de energia renováveis isentas de emissões de carbono e que vão ao encontro da procura crescente de energia limpa, está no centro da atenção do público em geral. Um dos maiores desafios é o de conseguir um uso da energia que seja eficiente, barato, seguro e ambientalmente “limpo”.
Tendências tecnológicas do setor energético
Descarbonização: diminuição da geração de energia elétrica por meio de combustíveis fósseis. Incentiva o uso de fontes alternativas de energia, como a solar e a eólica.
Descentralização: diversificação da matriz energética brasileira, crescimento da geração distribuída e evolução de tecnologias como as de armazenamento de energia elétrica tornando-se mais acessíveis. Os usuários não são apenas consumidores de energia elétrica, mas também passam a ter a capacidade de produzir e fornecer energia elétrica, assim como de escolher o seu fornecedor e o tipo de energia, de acordo com sua origem e preço.
Digitalização: aplicação de um conjunto de tecnologias digitais voltadas ao aprimoramento da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Com o auxílio da Inteligência Artificial e da Internet das Coisas, espera-se que haja um aumento da eficiência energética, da confiabilidade e da segurança do sistema elétrico, adequando o segmento aos seus desafios e anseios da comunidade.
Além disso, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) determina que as empresas autorizadas, permissionárias e concessionárias do setor de energia elétrica devem aplicar anualmente um percentual de seu ROL (Receita Operacional Líquida) em P&D. O objetivo é investir em projetos inovadores e originais, que se mostrem perfeitamente aplicáveis, relevantes e economicamente viáveis para o setor elétrico brasileiro.
Estes recursos são distribuídos entre vários tipos de projetos e estudos, como: 40% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); 40% para projetos de P&D, segundo regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); 20% ao Ministério de Minas e Energia (MME).
Leia também: Os desdobramentos do setor elétrico e suas tendências
O setor elétrico e a Inteligência artificial
Tecnologias pautadas em inteligência artificial (IA) visam obter maior eficiência energética e operacional, redução de custos e uma maior produtividade da área, por meio da sua utilização no aprimoramento de processos relacionados ao setor, como manutenção preditiva, continuidade de fornecimento e até mesmo no atendimento ao cliente.
A tecnologia também pode ajudar no monitoramento do consumo de energia e combate a fraudes, por meio do impulsionamento da coleta de dados e controle, permitindo a identificação de pontos de melhoria dentro de diversas áreas e a execução de ações mais assertivas.
Internet das Coisas (IoT)
Capaz de elevar o nível de monitoramento e controle da geração, transmissão, distribuição e do consumo de energia, contribuindo para uma operação mais eficiente. Além disso, se tem a redução de custos e aumento da qualidade dos serviços das empresas do setor.
Devido a distribuição de energia no Brasil ser realizada em lugares remotos e de difícil acesso, a IoT se torna uma importante aliada nesse quesito. Isso porque as empresas podem monitorar em tempo real as redes de energia, mesmo nas regiões mais distantes. Desse modo, é possível identificar e rastrear com mais facilidade problemas ao longo do sistema elétrico, como um transformador ou um cabo com defeito, por exemplo.
Iniciativas
Uso de baterias para o armazenamento de energia: melhora da qualidade e durabilidade de seus produtos para atenderem a uma demanda energética cada vez maior no mundo. Baterias maiores e com capacidades de armazenamento elevadas e duradouras são amplamente utilizadas nos veículos elétricos e híbridos.
O uso de baterias também deve ser fortemente implementado na geração de energia renovável para empresas, residências e, principalmente, no meio rural, melhorando a eficiência dos sistemas e aumentando a produtividade. Essa prática visa promover a autossuficiência energética individual e anular a necessidade de abastecimentos pela rede pública.
Além disso, a utilização de baterias eficientes são fundamentais para usinas de energia eólica e solar, pelo fato destes tipos de geração serem intermitentes. Isso significa que estas usinas produzem energia de forma variável: no caso da energia solar, o pico de geração é durante o dia – que ainda depende da incidência solar; e no caso da energia eólica os picos de geração são em condições de alto fluxo de ventos. Dessa forma, é necessário que soluções de armazenamento de energia sejam desenvolvidas, de forma a despachar a energia produzida de forma estratégica.
Ampliação do uso de painéis fotovoltaicos: considerando que o Brasil é um dos países com maior incidência de luz do sol no mundo e que os custos de aquisição e manutenção dos sistemas fotovoltaicos seguem caindo, há uma previsão de adoção muito maior para a geração de energia solar no futuro.
Geração de créditos de energia: uma solução encontrada é comprar energia de quem investe na produção própria. Então, seja uma residência ou uma empresa, será possível vender os Watts excedentes armazenados para as concessionárias de distribuição do país, por meio de uma ligação de retorno.
Essa situação pode impactar a rentabilidade e a capacidade de investimentos do setor, com isso as empresas devem buscar alternativas que otimizem os custos relacionados ao desenvolvimento de projetos. Logo, utilizar de oportunidades de fomento disponíveis é uma realidade para empresas que desejam inovar nesse seguimento.
Oportunidades de fomento
O governo brasileiro tem um papel fundamental ao apoiar fases de maior risco de um projeto de inovação, como a pesquisa e o desenvolvimento. Como oportunidade para o setor de energia otimizar os custos com PD&I, a Abgi mapeou alguns dos atuais instrumentos de apoio à inovação existentes no Brasil. Vale mencionar que cada instrumento possui sua particularidade, e envolve o tipo de recurso (não reembolsável, reembolsável e recursos humanos), o público alvo (especificando, se for o caso, o porte da empresa contemplada com o recurso), se há necessidade de parcerias (empresas e universidade/ICT/Startup), a condição do apoio e os itens financiáveis.
É possível identificar na imagem abaixo a correlação entre o tipo de recurso disponível e o escopo da inovação, logo, é necessário avaliar cada uma das variáveis para se obter a oportunidade de fomento adequada.

1) RECURSOS REEMBOLSÁVEIS: Nesta modalidade, as agências de fomento emprestam dinheiro às empresas para a promoção da inovação, com condições especiais e acessíveis, sob a condição de apresentação de capacidade de pagamento e de desenvolvimento de projetos de PD&I.
- FINEP APOIO DIRETO À INOVAÇÃO REEMBOLSÁVEL: Apoiar os investimentos associados às estratégias de inovação das empresas em todos os setores da economia.
- FINEP CONECTA: Fortalecer as parcerias ICT-Empresas, intensificando entre estes o fluxo de transferência de conhecimento, tecnologia, recursos humanos bem como a prestação de serviços e investimentos.
- FINEP IOT: A Ação de Fomento Finep IoT visa financiar empresas para a execução de Planos Estratégicos de Inovação e projetos que resultem em inovações em produtos, processos e serviços baseados em tecnologias digitais – tendo como referencial o conceito de Internet das Coisas e demais tecnologias habilitadoras da Manufatura Avançada.
- BNDES FINEM INOVAÇÃO: Plano de Investimento em Inovação abrangendo tanto a capacitação da empresa para inovar quanto as inovações potencialmente disruptivas ou incrementais de produto, processo e marketing.
2) RECUSOS NÃO REEMBOLSÁVEIS: Aplicação de recursos públicos não reembolsáveis (que não precisam ser devolvidos) diretamente em empresas para compartilhar com elas os custos e os riscos inerentes a tais atividades.
- EMBRAPII: Fomentar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na indústria brasileira. O programa da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) visa promover a inovação nas empresas, explorando a competência de instituições de pesquisa. As empresas não precisam passar por um edital de seleção do projeto de inovação que desejam desenvolver, mas devem procurar as instituições de pesquisas credenciadas que irão avaliar a aderência do projeto aos objetivos do programa e às linhas de pesquisa apoiadas. No site é possível consultar todas as Unidades do Embrapii com competências aderentes ao setor energético. Vale destacar que a empresa parceira e a instituição de pesquisa são titulares das Propriedades Intelectuais resultantes na proporção de 50% e 50% dos recursos aplicados nos projetos.
O aporte financeiro da empresa é de no mínimo 1/3 do projeto. As etapas de PD&I apoiadas vão desde a pesquisa aplicada, passando pelo desenvolvimento experimental, até a fase de escalonamento industrial. Uma das principais vantagens da Embrapii é que cada empresa pode apresentar a sua necessidade para a instituição de pesquisa e desenhar a solução de forma conjunta e com custos compartilhados.
- PARCERIA EMBRAPII + SEBRAE: Fomentar projetos para o desenvolvimento de soluções tecnológicas para auxiliar pequenos negócios acesso à infraestrutura e conhecimentos científicos e tecnológicos por parte do SEBRAE e EMBRAPII, respectivamente.
- SENAI: Esta categoria conta com missões Industriais ancoradas por investidores, associações setoriais e empresas Industriais. Por meio dela, o SENAI promove conexão entre organizações para o desenvolvimento de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D+I).
3) SUBVENÇÃO ECONÔMICA: É um subsídio do Estado às organizações, sem necessidade de reembolso pela parte que recebeu o benefício, sendo necessária a prestação de contas e comprovação de que o valor destinado foi aplicado de maneira correta.
- FINEP Startups IA: Esta Seleção Pública objetiva conceder recursos de subvenção econômica para o desenvolvimento de produtos, processos e/ou serviços inovadores dentro do escopo das linhas temáticas: Agro 4.0, Saúde 4.0, Indústria 4.0 e Cidades Inteligentes e Turismo 4.0.
Estes são exemplos de alguns instrumentos de apoio disponíveis às empresas e que podem auxiliar na viabilidade para o desenvolvimento de projetos de inovação do setor energético. E considerando as diferentes oportunidades de fomento, sugerimos uma análise detalhada de fatores internos e externos, como a estratégia da empresa e as condições de cada edital, para a escolha do fomento que melhor se adeque ao projeto de inovação da empresa.
Próximos passos
Uma dica importante: é possível obter diferentes fontes de fomento para captar recursos para o desenvolvimento de um mesmo projeto. Com isso, a empresa otimiza seus investimentos em inovação e aumenta a possibilidade de desenvolvimento de projetos mais disruptivos. Além disso, a Abgi conta com um portal de gestão estratégica de recursos para inovação (GERI) em que são abordadas as principais metodologias para alavancar a inovação nas empresas.
A Abgi possui também grande experiência em apoiar as empresas na identificação de projetos de PD&I, combinado as diferentes oportunidades de recursos financeiros, bem como na estruturação de processos e ferramentas para priorização dos projetos de PD&I das empresas. Ficou interessado? Entre em contato conosco e conheça as principais oportunidades de recursos financeiros para apoiar a estratégia de transformação da sua empresa.