O investimento do setor privado no Brasil em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) tem uma das menores taxas entre os países dos BRICS (grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e esse fato se reflete em diversas formas na economia e projeção internacional. Isso somado à tendência de “reprimarização” da pauta de exportação ou “desindustrialização” da base econômica, ainda que o investimento público some cerca de 50% do que é investido em pesquisa no Brasil. A sinergia e colaboratividade entre empresas e Universidades é baixa, o que reduz a quantidade de estudos que se revertem em aplicações comerciais, um dos motivos pelos quais ainda não temos a “Apple” brasileira.
O surgimento e ascensão de marcas em países fora do eixo Estados Unidos-Europa – a exemplo da finlandesa Nokia ou as coreanas Samsung e LG – está intimamente ligado ao investimento privado em PD&I, o qual soma entre 2% e 2,5% do PIB da Finlândia e Coreia do Sul. O sucesso e o progresso dessas marcas têm como fator essencial o aumento da competitividade de seus produtos no mercado. Os processos de inovação que resultam em seus produtos inovadores, requerem mais mão-de-obra qualificada e especializada para serem produzidos, gerando mais emprego, aumento de renda e, consequentemente o desenvolvimento econômico. Além disso, os produtos inovadores são menos suscetíveis às oscilações do mercado, uma vez que sustentam melhor seu valor devido à exclusividade gerada.
Para poder competir com as novas tecnologias globais, ou ao menos ser um expoente regionalmente, é importante que os setores público e privado de pesquisa possam andar juntos para a pesquisa de base possa evoluir à entrada em operação. Os incentivos gerados pela Lei de Inovação em 2004 são um marco entre a aproximação dos investimentos público e privado no Brasil. Neste sentido, os incentivos fiscais da Lei do Bem e da Lei de Informática são chaves para reduzir o custo em inovar e auxiliar as empresas por meio de benefícios fiscais, que no curto prazo, refletem em maior fluxo de caixa.
A atividade científica precisa se tornar questão estratégica tanto com plano de Estado, quanto dentro do setor empresarial. Os investimentos em pesquisa se recuperam não só em termos econômicos, mas em prestígio e credibilidade. Um bom exemplo, é o que foi feito com o setor agro brasileiro que se tornou uma atividade em destaque até internacionalmente, por sua alta competitividade, devido aos investimentos feitos pelas empresas privadas do setor e fomentado fortemente nos últimos anos pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Somos hoje referência em aumento de produtividade de commodities e no desenvolvimento de bioinsumos para controle de pragas. Outros bons exemplos a serem citados, encontram-se no setor farmacêutico e médico. O Brasil serve de modelo para outros países em pesquisa e desenvolvimento de fármacos e métodos para tratamento e controle das infecções causadas pelo vírus HIV e de doenças tropicais ,como, malária, doença de Chagas e febre amarela, por exemplo.
Visto que nunca tivemos uma política de longo prazo de apoio à pesquisa, o país sobrevive com a evasão de cérebros, profissionais altamente qualificados que não encontram oportunidade de alocação nacionalmente e, pela falta de emprego, sendo forçados a trabalhar no exterior, transferindo toda sua produção científica e, consequentemente, qualquer lucro advindo dessa atividade, aos países que não contribuíram para sua formação.
A escassez de pesquisadores é preocupante e só será melhorada com medidas sérias de valorização dos profissionais, investimento em estrutura física e insumos. Muito do que se espera para o futuro do País, em especial na expectativa de volta de crescimento, é a criação de empregos e desenvolvimento depois do período difícil dos últimos anos, com instabilidade política e econômica, agora agravadas pela pandemia do Covid19. Neste sentido, os investimentos em PD&I são fundamentais para promover a retomada de crescimento no curto prazo e sobrepujar a nação internacionalmente ao longo dos próximos anos.