Lançado no fim do governo Michel Temer, a primeira fase do Rota 2030 deu sequência a outros dois programas (Regime Automotivo em 1996 e Inovar-Auto em 2012), sendo inegável a importância de todos eles na promoção da competitividade do setor automotivo nacional, por meio de incentivos fiscais à pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
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Dentre os principais resultados, além do significativo aumento dos investimentos da iniciativa privada no setor, destaca-se a evolução tecnológica dos veículos nacionais, em especial nos quesitos de segurança e eficiência energética. Quanto a este último, para se ter uma ideia, ao final do Inovar-Auto em 2017, a frota vendida pelas marcas inscritas no regime automotivo apresentou melhoria de 15,9% na eficiência energética, enquanto a primeira etapa do Rota 2030 terminou 2022 com uma evolução de 12,6% nesse mesmo aspecto.
> Em 10 anos, somando os resultados dos dois regimes, a eficiência energética dos carros vendidos no Brasil melhorou mais de 26%.
Isso reflete também na significativa queda das emissões de poluentes, maior legado dos dois programas na opinião de muitos analistas.
Esta pauta ambiental, relacionada à eficiência energética e redução de emissões de gases do efeito estufa (GEEs), já domina as discussões que antecedem a segunda etapa do Rota 2030, impulsionada pelo recente crescimento da oferta de modelos elétricos no mercado nacional.
As montadoras ‘novatas’, detentoras da tecnologia 100% elétrica, defendem a prorrogação da isenção das taxas de importação destes modelos, vigente desde 2015. Do outro lado da discussão, montadoras tradicionais defendem maiores incentivos para modelos híbridos, com apelo aos biocombustíveis, em especial o etanol. No centro das defesas de cada lado, estão dois importantes conceitos: ‘do Tanque à Roda’ e ‘do Poço à Roda’.
Do Tanque à Roda x do Poço à Roda
O ‘Poço à Roda’ é um conceito mais amplo, quando comparado ao chamado ‘Tanque à Roda’, pois envolve não só a emissão de gases derivada do uso do veículo propriamente dito, mas também o saldo das emissões provenientes da produção da energia.
Em outras palavras, na visão do ‘Poço à Roda’, as emissões e absorções de GEEs de todo o ciclo de vida da fonte de energia são contabilizadas, desde a extração dos recursos, passando pela produção de energia/combustível, até seu consumo nos motores.

Assim, de forma prática, se compararmos dois veículos, o primeiro 100% elétrico e o segundo movido à etanol, sob a ótica restrita do conceito ‘Tanque à Roda’, o veículo elétrico será considerado mais ‘sustentável’, com zero emissões, independente da fonte original de energia que foi acumulada nas baterias (mesmo que tenha sido uma fonte de origem fóssil, por exemplo).
Mas se a comparação for feita considerando o conceito abrangente ‘do Poço à Roda’, o CO2 absorvido no cultivo da cana-de-açúcar é contabilizado, e com isso, o saldo de emissões torna-se mais atraente do que o veículo 100% elétrico, podendo inclusive se neutralizar.

Assim, a visão ‘do Poço à Roda’ parece mais aderente à realidade, e com isso mais propensa a se tornar eficaz no compromisso de redução da emissão de GEEs. Ainda é importante salientar que decisões nesse campo devem levar em conta a matriz energética brasileira, que conta com 80% de energias renováveis (hidráulica, biomassa, eólica e solar), enquanto o restante do mundo, em média, dispõe de apenas 27% de renováveis, ante 73% de energias não renováveis (gás natural, derivados de petróleo, de carvão e nuclear).
Aguardando o próximo passo
Esta é apenas uma das questões a serem enfrentadas pelo setor automotivo nacional na nova etapa do Rota 2030, que começa ainda em julho. Desafios semelhantes nos campos de segurança veicular, conectividade, economia circular, dentre outros, deverão ser tratados no novo regime com a divulgação das regras previstas para este mês.
Desde 2007 que a Abgi apoia as empresas do setor automotivo a maximizar seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, no cumprimento dos requisitos e na obtenção dos incentivos fiscais à inovação dentro dos programas setoriais, além de outras oportunidades de fomento às inovações do setor. Para acompanhar este assunto e entender melhor as oportunidades de incentivos à inovação, entre em contato conosco.