
A Confederação Nacional da Indústria, por meio do Instituto Euvaldo Lodi contratou a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e a UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, com o objetivo de identificar e avaliar os impactos das tecnologias disruptivas sobre diferentes sistemas produtivos no horizonte de cinco a dez anos.
O resultado foi o Projeto Indústria 2027: Riscos e Oportunidades para o Brasil Diante de Inovações Disruptivas. No trabalho, foram detectadas as tecnologias relevantes para a competitividade da indústria brasileira e avaliadas as implicações estratégicas para empresas e ecossistemas de inovação. Pretende, ainda, fornecer subsídios para o planejamento corporativo de empresas e para a formulação de políticas públicas, visando estratégias de adaptação da indústria às melhores práticas competitivas internacionais.
Inicialmente, foram avaliadas oito temáticas de inovações disruptivas que vão impactar a indústria e a sociedade nos próximos anos:

Importante compreendermos os conceitos para dimensionarmos corretamente os impactos. Da publicação Mapa de Clusters Tecnológicos e Tecnologias Relevantes para Competitividade de Sistemas Produtivos da CNI podemos compreender:
- A Internet das Coisas – em inglês Internet of Things (IoT) – pode ser definida como um sistema de interconexão, através da Internet ou de uma rede específica, de dispositivos informáticos incorporados em objetos cotidianos, permitindo-lhes enviar e receber dados, e atuar sobre estes objetos.
- A Inteligência Artificial (IA) está associada às ciências e ao conjunto de tecnologias computacionais em que são inspiradas – mas tipicamente operam de forma bastante diferente – nas maneiras como o ser humano usa seu sistema nervoso e seu corpo para sentir, aprender, raciocinar e agir.
- A Produção Inteligente e Conectada (PIC) refere-se a sistemas ciberfísicos de interconexão, digitalização, processamento e otimização da cadeia produtiva (incluindo seus processos e desenvolvimento de produtos, quase que personalizados), com crescente utilização de inteligência artificial.
- Materiais Avançados representam avanços sobre materiais tradicionais, englobando materiais novos ou modificados com desempenho (estrutura ou funcionalidade) superior em uma ou mais características críticas para sua aplicação comercial. Os Materiais Avançados – também chamados de value-added materials – permitem a introdução nos mercados de novos produtos (inovadores ou superiores aos existentes).
- Nanociência e nanotecnologia podem ser definidas como áreas da ciência e da tecnologia que lidam com a matéria na escala nanoscópica (menor do que aproximadamente 100 nm em pelo menos uma de suas dimensões), e aplicam os conceitos e materiais produzidos a partir de tais estudos.
- A Biotecnologia é o conjunto de técnicas que usam organismos vivos ou suas partes para obter ou modificar os produtos para melhorar plantas ou animais ou para desenvolver microrganismos com fins claramente definidos, ou seja, para a obtenção de produtos e serviços. A biotecnologia moderna, seja ela vegetal, animal, industrial ou humana, depende basicamente das tecnologias “ômicas” (genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica), da Bioinformática e de um conjunto de técnicas de biologia molecular e celular.
- O Armazenamento Eletroquímico de Energia (AE ou AEE) corresponde à utilização de uma reação química (reação redox) para armazenar energia elétrica. É o campo tecnológico onde se utilizam métodos eletroquímicos para armazenar energia. Para se extrair energia elétrica de uma reação química, deve-se criar um dispositivo que permita o fluxo de elétrons pelo circuito externo.
- Uma Rede de Comunicação é um sistema de computadores, canais de transmissão e recursos relacionados e interligados para trocar informações. A rede pode ser representada conceitualmente por um modelo em camadas que abstrai os artefatos físicos envolvidos na comunicação dentro dela. A finalidade principal do modelo de camadas é separar as diferentes funções envolvidas no processo de comunicação.
Com base nessas tecnologias foram analisados os principais impactos nos sistemas produtivos:
Sistema Produtivo | Focos |
Aeroespacial e defesa | Aeronáutica |
Agroindústria | Alimentos |
Processados | |
Bens de capital | Equipamentos de GTD |
Máquinas e ferramentas | |
Máquinas e implementos agrícolas | |
Motores e outros bens seriados | |
Bens de consumo | Têxtil e vestuário |
Complexo automotivo | Veículos leves |
Farmacêutica | Biofármacos |
Insumos básicos | Siderurgia |
Petróleo e Gás | E&P em águas profundas |
Química | Química verde |
TIC’s | Microeletrônica |
Sistemas e equipamentos de Telecom | |
Software |
Direcionamentos para o futuro
Para a aplicações das novas tecnologias é indispensável que ocorram mudanças em todo o contexto atual do País. No estudo, foram apresentados 4 direcionamentos para o futuro da indústria:
- 1. Envolvimento do mais alto nível do governo e metas compartilhadas com o setor privado.
Para que as empresas consigam aplicar as novas tecnologias é indispensável que o Governo realize ações efetivas para a promoção. Segundo dados do MCTIC, o Poder Público ainda contribui, praticamente com 50% do dispêndio em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Dessa forma, torna-se indispensável que promova um ambiente favorável e também políticas de incentivo para a efetiva utilização da tecnologia.
- 2. Investimento na capacitação de pessoas e de empresas.
Para a aplicação das tecnologias é indispensável que os profissionais envolvidos sejam devidamente capacitados, de forma a não só aplicá-las mas também conseguir desenvolver novas soluções.
Como constantemente divulgado na mídia, as competências que serão exigidas do profissional para lidar com as novas tecnologias são bem diferentes das atualmente desenvolvidas. Isso porque muitas das atividades operacionais devem ser substituídas por meio da inteligência artificial e da produção inteligente e conectada.
O relatório “The Future of Jobs” revela que até 2020 mais de um terço das habilidades atualmente exigidas terão mudado.
10 top habilidades
Em 2020 | Em 2015 |
1. Solução de problemas complexos | 1. Solução de problemas complexos |
2. Pensamento crítico | 2. Relacionamento com os outros |
3. Criatividade | 3. Gestão de pessoas |
4. Gestão de pessoas | 4. Pensamento crítico |
5. Empatia com os outros | 5. Negociação |
6. Inteligência emociona | 6. Controle de qualidade |
7. Bom senso e tomada de decisão | 7. Orientação para serviços |
8. Orientação para serviços | 8. Bom senso e tomada de decisão |
9. Negociação | 9. Escuta Ativa |
10. Flexibilidade cognitiva | 10. Criatividade |
Fonte: Relatório “Future of Jobs”, World Economic Forum
É sempre imprescindível que a capacitação dos profissionais seja adequada a visão de futuro das empresas. E cabe as empresas incentivar e conscientizar sobre o desenvolvimento das novas habilidades.
- 3. Definição de estratégias, conforme estágios de desenvolvimento de empresas.
A estratégia de aplicação das novas tecnologias não poderá ser a mesma para todas as empresas. Assim, se faz necessário avaliar qual é a melhor ação dependendo do seu estágio de desenvolvimento.
A estratégia para a aplicação de novas tecnologias envolve recursos financeiros, capacitação intensa dos colaboradores e uma mudança significativa na cultura da empresa.
Contudo, a forma de implementação das novas tecnologias será diferente se compararmos uma pequena e uma grande empresa.
Compreender essa diferença é essencial para a elaboração do plano de ação a ser seguido. E importante destacarmos que para a agenda da Indústria 2027 é importante que todos os atores sejam efetivamente impactados pelas novas tecnologias.
- 4. Implementação de ações por meio de programas e instrumentos coordenados.
Para estimular a adoção das novas tecnologias deverão ser estabelecidas estratégias nacionais para promover as inovações disruptivas.
Conforme quadro abaixo elaborado pelo Projeto Indústria 2027, cabe tanto ao poder público, como ao privado estabelecer ações de fomento por meio de recursos e instrumentos conjuntos.
Quadro analítico das estratégias nacionais diante das inovações disruptivas

Fomento à Inovação
Como exemplo, podemos citar a Ação de Fomento à Inovação em Internet das Coisas – Finep IoT que tem como objetivo financiar empresas para a execução de Planos Estratégicos de Inovação (PEIs) e projetos que resultem em inovações em produtos, processos e serviços baseados em tecnologias digitais – tendo como referencial o conceito de Internet das Coisas e demais tecnologias habilitadoras da Manufatura Avançada – com aplicações na saúde, indústria, no agronegócio (ambiente rural) e no desenvolvimento urbano (cidades).
Os objetivos específicos dessa ação estão muito alinhados ao estudo Indústria 2017. São eles:
- Fomentar a transição tecnológica das empresas nacionais e da sociedade para ambientes produtivos e de prestação de serviços baseados em tecnologias digitais, com aplicações na saúde, nas cidades, no agronegócio e na indústria.
- Apoiar o desenvolvimento de plataformas de integração entre ambientes virtuais e físicos, utilizando a internet ou redes de comunicação fechadas, utilizando padrões que garantam a interoperabilidade.
- Possibilitar a integração e adoção de tecnologias habilitadoras visando a conexão das diversas etapas da cadeia de valor.
- Proporcionar a otimização logística por meio do estabelecimento da integração entre fornecedores, empresas e clientes – Integração Horizontal da produção.
- Auxiliar a manutenção preditiva de máquinas e equipamentos e assegurar maior precisão nos procedimentos.
- Possibilitar ambientes produtivos caracterizados por comunicações instantâneas entre diferentes elos da cadeia produtiva e o desenvolvimento de sistemas de automação flexíveis que possibilitem a produção de diferentes bens em uma mesma linha de produção.
Os projetos devem estar alinhados a um dos eixos[1] abaixo:
Eixo 1 | Desenvolvimento de soluções digitais baseadas em Internet das Coisas (IoT) e demais tecnologias habilitadoras, visando à integração de ambientes virtuais e físicos nos processos fabris, no agronegócio, no desenvolvimento urbano, na saúde e nas cadeias de serviços. |
Eixo 2 | Formulação de Planos Estratégicos Empresariais de Digitalização dos processos produtivos e sua integração horizontal. |
Eixo 3 | Implementação dos Planos Estratégicos Empresariais de Digitalização dos processos produtivos das empresas. |
Fonte: Finep
O volume de recursos disponíveis totaliza R$ 1,5 bilhão, apoiado com recursos próprios da Finep (R$ 1,1 bilhão) e FUNTTEL (R$ 400 milhões). Para apoio com recursos do FUNTTEL, os PEIs e projetos devem ser do setor de Tecnologia de Telecomunicações.
Somente poderão submeter projetos Empresas que apresentem Receita Operacional Bruta (ROB) igual ou superior a R$ 16 milhões. Os projetos devem ter valor mínimo de R$ 5 milhões.
As condições de financiamento dependem da linha que o projeto será enquadrado. O enquadramento nestas linhas de ação deve levar em consideração os conceitos de grau de inovação e de relevância da inovação avaliados no momento da análise da operação pela Finep.
Condições Operacionais da Finep
Linhas de Ação | Eixos | Juros | Carência | Prazo Total | Participação da FINEP |
Inovação Crítica | 1 e 3 | TJLP – 1% a.a. | 48 meses | 144 meses | até 90% |
Inovação Pioneira | 1 e 3 | TJLP – 0,5% a.a. | 48 meses | 144 meses | até 90% |
Inovação para a Competitividade | 1 e 3 | TJLP + 0,5% a.a. | 36 meses | 120 meses | até 80% |
Inovação para Desempenho | 1 e 3 | TJLP + 2,5% a.a. | 36 meses | 120 meses | até 80% |
Pré-Investimento | 2 | TJLP + 4% a.a. | 24 meses | 84 meses | até 70% |
FINEP/Funttel – Projetos Inovação Tecnológica | 1, 2 e 3
(Setor de telecomunicações) | TR+4,0% a.a. | 48 meses | 120 meses | até 80% |
FINEP/Funttel – Aquisição inovadora de equipamentos | 1, 2 e 3
(Setor de telecomunicações) | TR+6,0% a.a. | 12 meses | 36 meses | até 80% |
TJLP = 6,56% e TR = 0%
Fonte: Finep
Para que se torne real a Indústria 2027 espera-se que sejam implementadas inovações convergentes, integradas, conectadas e inteligentes que transformarão a maneira como as empresas se organizam e os fatores-chave de sucesso competitivo.
É necessário que todas as empresas analisem os impactos e se preparem para introduzi-las de forma eficiente. Conforme conclui o estudo da CNI, não está assegurado que as empresas hoje relevantes em seus mercados continuarão a sê-lo ao longo dos próximos dez anos.
Como a sua empresa está se preparando para a Indústria 2027? Entre em contato conosco e conheça as principais oportunidades de recursos financeiros para apoiar a estratégia de transformação da sua empresa.

Autora
Bruna Soly é graduada em Direito pela faculdade de Direito Milton Campos, com especialização em Direito Tributário pela mesma faculdade e pós-graduada em Finanças na Fundação Dom Cabral. Na ABGI, atua na gestão estratégica de recursos para inovação, envolvendo-se em projetos de incentivos fiscais, captação de recursos, definição e acompanhamento de indicadores para inovação e estruturação de centros de P&D.