O termo ESG (Environmental, Social e Governance, do Português Ambiental, Social e Governança) foi criado em 2004, em um relatório produzido pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como objetivo engajar empresas e organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente, e anticorrupção. Na publicação, o então Secretário-Geral da ONU, Koffi Annan provoca 50 presidentes de grandes instituições financeiras sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Apesar de bem conhecido no exterior, o termo ESG ganhou força no Brasil apenas nos últimos 5 anos. O interesse de busca pelo termo no Brasil triplicou nos últimos 12 meses, até fevereiro de 2022. De acordo com levantamento do Google Trends, feito a pedido do Valor Econômico, as buscas pelo tema cresceram 150% na comparação aos 12 meses anteriores.
E S G
De maneira específica, a letra E (Environmental) diz respeito a práticas ambientais que as empresas lidam no seu dia a dia. Alguns exemplos são a redução das emissões de carbono, emissão de títulos verdes, melhor utilização ou reuso de recursos naturais, redução do uso de poluentes e preservação ambiental. A indústria química por exemplo direciona seus esforços para o uso cada vez mais frequentes de reações a base de água e não mais de solventes orgânicos como o Tolueno, altamente tóxico. A indústria mineradora investe cada vez mais em tecnologias de monitoramento de barragens e novas formas de disposição de rejeitos. De maneira geral, se observa na indústria um grande movimento para mudança de matriz energética, visando redução das emissões de carbono e alinhado às diretrizes da COP26, realizada em Glasgow em 2021.
A letra S (Social) dá diretrizes ao relacionamento das empresas com seus diferentes Stakeholders. Não necessariamente está vinculada a projetos sociais, como frequentemente se imagina, mas sim a demarcação da função social da empresa no ecossistema a qual pertence, bem como a sua relação com os atores inseridos no seu contexto. São consideradas nessa frente ações de redução de impactos negativos à comunidade na qual a empresa está inserida, como no caso de uma empresa que extrai recursos nas proximidades de reservas indígenas ou populações ribeirinhas. Podem ser incluídos nesse contexto também projetos de inclusão da comunidade na indústria, como emprego de mão de obra local ou o impacto na economia da região pela atividade da instituição. De maneira geral, um grande movimento tem sido feito na temática social no que tange a inclusão em RH. Cada vez mais, se observam empresas preocupadas com porcentagem de mulheres, pessoas não brancas e LGBTQIA + em cargos de liderança, por exemplo.
A fração “G” da sigla (Governance) tem sido reportada como a mais relevante das três pela comunidade estudiosa do tema. É quase que consenso que sem políticas de governança bem estabelecidas se torna impossível a implementação das outras frentes. As boas práticas de governança em ESG ditam processos de transparência, combate à corrupção, independência do conselho administrativo e diretrizes de qualidade e ética. Este é o primeiro fator a ser analisado por investidores no fator risco. Nenhuma empresa consegue lidar com uma crise ambiental ou social sem uma governança que siga boas práticas.
ESG paras empresas
As empresas com engajamento nos temas ESG consideram de maneira mais relevante a sua interação com os diferentes Stakeholders no seu ecossistema. Neste contexto, se consideram Stakeholders todos os atores que interagem com a empresa de alguma forma incluindo fornecedores, clientes, colaboradores, concorrentes, governo, a mídia, as comunidades em volta e com o meio ambiente.
Com este movimento, emerge às discussões o conhecido Stakeholder Capitalism, que basicamente estuda como o modelo econômico atual pode se tornar mais longevo e sustentável quando as empresas consideram o contexto na qual estão envolvidas e todos os seus participes.
O Fórum Econômico Mundial de 2020 promoveu um amplo debate sobre a contraposição do atual modelo ao antigo Shareholder Capitalism, amplamente praticado na década de 90, onde basicamente as instituições buscavam lucros para seus acionistas, desconsiderando a sustentabilidade socioambiental.
O modelo de Shareholders passou a ser reconhecido pelo mercado, nos últimos anos, como não sustentável. No mesmo Fórum foi desenvolvido um documento de nome Measuring Stakeholder Capitalism, que traz 55 métricas para empresas analisarem seu alinhamento com as temáticas ESG. As métricas são segregadas em quatro pilares principais: Governança, planeta, pessoas e prosperidade, garantindo assim que as ações tenham em vista desenvolvimento econômico, mas também responsabilidade socioambiental.
A pandemia do Covid-19 trouxe também uma alavanca para esse novo modelo, onde a iniciativa privada passou a ser demandada cada vez mais para sua função social. A forma como as empresas responderam à essa demanda impactou fortemente nos preços das suas ações e na sua reputação. Como resultado, o valor dos investimentos alinhados às diretrizes ESG atingiu mais de $40 trilhões, triplicando nos últimos dois anos. Outro estudo do Global Climate Change and Sustainability Services mostrou que para 96% dos investidores, a temática ESG é um fator decisivo nos seus investimentos.
Prioridade na cultura
A mudança de cultura no mercado tem influenciado os investimentos como um todo, levando as empresas a buscar diversas formas de se adequar às práticas ESG e ao mesmo tempo, demonstrar ações que tirem a empresa do cenário de potencial risco associado.
Uma empresa sem boas práticas ambientais pode sofrer uma queda abrupta de valor com algum desastre ambiental, ao passo que empresas sem processos bem definidos de governança apresentam um risco de ruir por má gestão.
Dessa forma as práticas ESG não vêm apenas como um grande pacto para um mundo melhor, mas sim como uma maneira de viabilizar negócios sustentáveis e longevos em todos os aspectos, não apenas no ambiental. Assim, surgem diversas certificações e indicadores para orientar as empresas em que caminho seguir e investidores sobre quais parâmetros analisar na hora de escolher seus investimentos.
Neste contexto, o Brasil se encontra em um momento crítico de inovação em ESG e adequação de suas práticas operacionais e gerenciais de forma a alinhar a esse escopo. Se estima que empresas que não se atentarem para os indicadores nos próximos anos estarão obsoletas e sujeitas a sofrerem um processo de “cancelamento” pelo mercado financeiro.
No entanto, há uma grande incerteza entre as empresas de como operacionalizar as práticas, mensurar resultados e entender quais informações são realmente relevantes para o mercado. Mediante diversos desafios a serem enfrentados, hoje, as áreas de inovação de empresas de todos os portes se voltam para o desenvolvimento de métodos aceitáveis, de acordo com as práticas ESG.
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