Capital de Risco: recursos financeiros para apoio ao desenvolvimento de empresas inovadoras

É importante entender qual o melhor tipo de capital de risco de acordo com a fase de desenvolvimento do negócio
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Capital de Risco ou Venture Capital é uma modalidade de investimento alternativo utilizado para apoiar negócios por meio da compra de participação acionária. O primeiro registro dessa prática ocorreu nos Estados Unidos, quando o francês Georges Doriot, em 1946, fundou a primeira Sociedade de Capital de Risco (SCR).

Muitos economistas avaliam que eles são fundamentais pela manutenção e crescimento das empresas inovadoras de base tecnológica. Normalmente esse tipo de empresa, por apresentar maior risco de insucesso e incertezas associadas ao retorno sobre o investimento, muitas vezes apresentam maior dificuldade em acessar recursos financeiros mais tradicionais, como empréstimos em bancos.

Neste sentido, o capital de risco tem sido um veículo importante para impulsionar o empreendedorismo de base tecnológica no Brasil, sendo uma modalidade de investimento que foca em empreendimentos de alto risco e alto potencial de crescimento/retorno. Segundo dados mais recentes da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), em 2016 no Brasil ocorreram investimentos de capital de risco em empresas no valor de R$ 142,8 bilhões em capital comprometido, sendo R$ 30,2 bilhões de recursos disponíveis para investimentos e despesas.  A entidade revela ainda, em um levantamento de dados, que atualmente existem em território brasileiro 134 gestores de Private Equity e Venture Capital em atuação e 348 veículos de investimentos.

No Brasil, as entidades públicas que lideram os investimentos nesse campo são o BNDES e a Finep e, quem regula todo o setor é a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O BNDES possui 43 fundos que já investiram em 170 empresas, localizadas em 20 estados. O volume total de recursos até o momento é de R$ 30 bilhões em capital comprometido diversificado em 18 setores. Voltados exclusivamente à inovação, são 14 fundos de investimento, com R$ 859 milhões de capital comprometido. Em relação a FINEP, dos 33 fundos em que apresenta participação, 28 estão em operação. Além disso, a FINEP apresenta 1 fundo estruturado com elementos de Corporate Venturing, o FIP Aeroespacial, que envolve participação do BNDES, FINEP, Desenvolve SP e Embraer. Atualmente, estes fundos possuem R$ 665 milhões em recursos comprometidos.

Para acessar estes recursos é importante entender que o tipo de capital de risco varia de acordo com as fases de desenvolvimento do negócio.  Estas fases também influenciam sobre o volume de recursos a ser investido, a distribuição das ações dos sócios e sobre como eles vão atuar na gestão.  O gráfico abaixo representa as fontes de recursos e as fases do negócio.


Fonte: ABGI

Fase 1 –Ideação e Desenvolvimento

São negócios ainda em fase de criação, ou startups, onde o produto ainda está na fase da ideia. Nesta fase o empreendedor tem como prioridade validar as hipóteses que ele considera base para o sucesso do seu negócio, gerando o mínimo produto viável (MVP) da solução que deseja levar para o mercado.  O acesso ao capital de risco é mais restrito nesta etapa, tendo em vista o alto risco de se investir em um empreendimento que ainda não tem um produto ou serviço lançado e consolidado no mercado. Neste sentido, o investimento se dá por meio investidores anjos, que são pessoas físicas ou grupos de pessoas físicas que injetam capital em empresas nascentes e inovadoras, ainda embrionárias, em troca de participação societária ou dívida conversível em participação. Alguns investidores anjos também podem investir através de plataformas de equity crowdfunding on-line ou criam suas próprias redes de investidores para um grupo de capital. Segundo levantamento da Anjos do Brasil, que agrega investidores profissionais nesta modalidade, o capital Anjo aumentou em 9% em 2016, em relação ao ano anterior, alcançando o patamar de R$ 851 milhões no país.  Dados do Sebrae indicam que os recursos investidos ficam na faixa de R$ 50 mil e R$ 500 mil e são utilizados para finalizar o desenvolvimento de produto, financiar a equipe de fundadores, para conquistar os primeiros clientes e custear a entrada no mercado. Além do acesso ao capital de risco via investidores anjo, nesta fase inicial o empreendedor pode ter apoio ao desenvolvimento de seu negócio via outros agentes ou instrumentos de fomento à inovação, como:
  • Aceleradoras: Aceleradoras de empresas integram o ecossistema de inovação de um país. São geralmente entes privados com capacidade de investimento próprio, que agregam em seu entorno empreendedores, investidores, pesquisadores, empresários, mentores de negócio e fundos de investimento (seed money, angel, venture capitalists). Oferecem programas de aceleração, compostos de uma série de serviços orientados ao desenvolvimento da startup, como infraestrutura física, mentorias, assessoria jurídica e contábil e acesso a mercado, por meio de sua rede de relacionamentos.
  • Recursos não-reembolsáveis: são recursos voltados principalmente para a pesquisa e desenvolvimento de inovações tecnológicas, provenientes da FINEP, das Fundações de Amparo à Pesquisa de cada estado, do CNPq e outras agências de fomento, que não precisam ser devolvidos pela empresa.  Estes recursos têm um papel fundamental para viabilizar o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços por startups de base tecnológica, reduzindo o risco da inovação.  Destaca-se que alguns programas de aceleração de startups viabilizam ou facilitam o acesso a recursos não-reembolsáveis.

Fase 2 – Startup e Estágio Inicial

Este estágio é focado em negócios que já tem um produto ou serviço definido e conta com alguns clientes, ainda que em caráter experimental, e estão validando o seu modelo de crescimento. Muitas empresas nesse estágio estão atreladas a aceleradoras, incubadoras ou parques tecnológicos. O tipo de capital de risco associado a esta fase é o Capital Semente, investimento voltado para empresas de pequeno porte, inclusive pré-operacionais, em geral, com perfil inovador e tecnológico. Os recursos investidos nesse estágio ficam na faixa de R$ 500 mil e R$ 5 milhões e são utilizados para expansão da base de clientes, aumento de equipe de desenvolvimento de produto/serviço, aumento da equipe de vendas e abertura de canais de venda e distribuição. Os Fundos de Capital Semente normalmente reúnem recursos de vários investidores e aplicam esse recurso em mais de uma empresa, visando dissolver o risco e distinguir a carteira.

Fase 3 – Crescimento e Expansão

Neste estágio as empresas já possuem um modelo de negócio validado, possuem receita recorrente em um patamar mais elevado e precisam alocar recursos na expansão do negócio. Neste sentido, o Venture Capital é o investimento que consiste na compra, por um período pré-estabelecido, de participação societária,  em  empresas inovadoras em  estágio inicial de desenvolvimento. Nessa modalidade ocorre a criação de fundos de investimentos que buscam recurso com vários investidores e investem em várias empresas, dessa forma eles diversificam a carteira e minimizam o risco. Os recursos investidos nesse estágio ficam na faixa de R$ 5 milhões e R$ 30 milhões e são utilizados para expansão geográfica, expansão de linha de produtos, abertura de novos mercados e aquisição de empresas concorrentes. Destaca-se ainda que uma modalidade de investimento especial de capital de risco, que tem ganhado mais atenção no Brasil no contexto da inovação aberta, é o Corporate Venture Capital. Neste modelo as empresas investem diretamente ou por meio de fundos de investimentos próprios ou de terceiros, em iniciativas que geram novas organizações, internas ou externas, ou que apoiam empresas Startups. De modo geral, essas ações buscam explorar novos mercados e/ou novos produtos, complementares aqueles em que a empresa já está ativa. Destaca-se que o tipo de capital investido pode se classificar como capital semente (seed) ou venture capital dependendo do estágio do negócio investido pela organização.

Fase 4-  Consolidação e Maturidade

Nesta fase as empresas já estão desenvolvidas e consolidadas no mercado, já possuem uma operação robusta e lucrativa, mas precisam de recursos para entrar em uma nova etapa de crescimento. Neste contexto, o Private Equity é uma modalidade de investimento que tem como foco empresas já consolidadas, apoiando operações de fusões e aquisições em grandes empresas com faturamento anual maior que R$ 100 milhões. Empresas de capital aberto também podem receber recursos de Private Equity, sendo que algumas vezes estes recursos podem ser utilizados para ajudar as empresas a se prepararem para abertura do capital (IPO). Os recursos investidos neste estágio são normalmente acima de R$ 30 milhões ajudando as investidas a crescerem para uma futura transação de venda e fusão.

Fundos de investimentos

A fim de ilustrar os tipos de Capital de Risco mencionados, na tabela a seguir trouxemos exemplos de alguns instrumentos e fundos de investimentos existentes no Brasil desta natureza, por fase de desenvolvimento do negócio:
Tipo de instrumento Nome do Fundo Setores de apoio Fase do negócio Patrimônio do fundo/ Valor investido por empresa
Fundo de Capital Anjo Fundo de Coinvestimento Anjo. Instituições de apoio (BNDES). Empresas que atuem prioritariamente nos setores de Agronegócios, Biotecnologia, Cidades Inteligentes, Economia Criativa, Nanotecnologia, Novos Materiais, Saúde e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). O Fundo apoiará empresas com receita operacional líquida anual de, no máximo, R$ 1 milhão, no ano imediatamente anterior à aprovação do investimento. Patrimônio comprometido estimado em R$ 100 milhões. O Fundo poderá investir até R$ 500 mil nessas empresas, desde que haja investimento conjunto, na mesma proporção, de um investidor-anjo e/ou aceleradora, apoiar empresas nascentes (startups).
Fundo de Capital Semente SEED4SCIENCE. Instituições de apoio (BDMG, FUNDEP, FAPEMIG, CODEMIG e FUNARBE) Fundo é voltado para empresa de intensiva tecnologia voltada para os setores de agronegócios; saúde e bem estar; indústria e varejo. Empresa nascente, tecnológica inovadora em estágios iniciais. Investimento de até R$ 1 Milhão por empresa selecionada no primeiro aporte e até R$ 2.5 Milhões em aportes subsequentes.
Fundo de Capital Semente Criatec III. Instiuições de apoio( BNDESPAR, BADESUL,  BANDES, BDMG, BRDE, FAPEMIG,  além de outros investidores privados e o Gestor Nacional Inseed Investimentos Ltda. O Criatec III investirá prioritariamente nos seguintes setores alvo: Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC); Agronegócios, Nanotecnologia, Biotecnologia e Novos Materiais O Criatec III é um Fundo de Investimento com a finalidade de capitalizar as micro e pequenas empresas inovadoras. O Fundo Criatec III possui patrimônio comprometido de aproximadamente R$ 202,5 milhões.
Fundo de Capital Semente Primatec. Instituições de apoio ( Gestão de Recursos Antera, Brain) Os setores de apoio do Primatec são empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (“TICs”), Energia, Sustentabilidade e Economia Criativa. O Primatec, por natureza, investe em empresas incubadas ou já graduadas de incubadoras e parques tecnológicos. O Fundo já possui R$40 milhões comprometidos pela FINEP e poderá chegar a até R$100 milhões de capital comprometido.
Fundo de Capital Semente FINEP STARTUP Empresas que desenvolvam tecnologia inovadora ou sejam capazes de desenvolver produto, serviço ou processo novo a partir da integração de tecnologias existentes com adição de desenvolvimento novo, não se limitando a revender, implantar e/ou instalar produtos e serviços de terceiros. Empresas brasileiras nascentes de base tecnológica. Investimento de até R$ 1 Milhão por empresa.
Fundo de Capital Semente FUNDO BR STARTUPS. Instituições de Apoio ( Microsoft do Brasil; Qualcomm Ventures, Banco Votorantim, Monsanto Ventures, BB Seguridade, Grupo Algar, ES Ventures e AgeRio). Sistemas na nuvem (Cloud), Inteligência Artificial (AI),Agronegócios (Agritech), Financeiro (Fintech), Seguros (InsurTech), Educação (Edtech), Varejo, Manufatura – Produtividade Industrial, Mobilidade, Cidades Inteligentes  (Smart Cities), Internet das Coisas (IoT), Saúde (Digital Health), Segurança Pública, Energias Renováveis (Clean Energy), Telecom, TIC e Turismo. Startups O Investimento do Fundo BR Startups é entre R$ 400 mil e R$ 3 milhões por startup.
Fundo de Capital Semente EDP Ventures O foco estratégico e financeiro da EDP Ventures são investimentos em produção eólica offshore, energia solar, eficiência energética, redes inteligentes, armazenamento de energia, mobilidade elétrica e tecnologias de informação. Startups Acesso às áreas de negócio do Grupo EDP, acesso a uma rede de incubadoras, aceleradoras e investidores nacionais e internacionais; financiamento de Projetos-Pilotos; tickets Early-Stage com hipótese de investimentos follow-up.
Fundo de Venture Capital  Debt I Voltados a investimentos nos setores de TIC, Novos Materiais, Biotecnologia, Nanotecnologia e Audiovisual. Média e Pequena empresa Inovadoras de até 90 milhões e que apresentem alto potencial de crescimento Serão apoiadas cerca de 25 empresas inovadoras, fundo tem um patrimônio de R$ 160.000.000,00
Fundo de Capital semente e Venture Capital FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÃO (FIP) AEROESPACIAL. Instituições de apoio (Finep, Embraer, BNDES, Desenvolve SP) Voltados a investimentos nos setores aeroespacial, aeronáutico, de defesa e de segurança. Empresas inovadoras que faturem até R$ 200 milhões de faturamento / ano. 3 (três) a 4 (quatro) empresas emergentes inovadoras e de base tecnológica, com faturamento bruto de até R$ 3,6 milhões/ano. 4 (quatro) a 6 (seis) empresas com faturamento entre R$ 3,6 milhões ano e R$ 200 milhões/ano. O Patrimônio Comprometido Inicial do Fundo será de R$ R$ 131,3 milhões,
Programas de Investimentos em Startup AES Brasil Inovação I AES parceria com SENAI e Liga Ventures Internet, Energy Storage, Eficiência Energetica, Geração Distribuída e Veículo Elétrico. Startup Até 500 mil em apoio financeiro.
Programas de Investimentos em Startup LinkOne I Unimed-BH parceria com a Inseed Investimentos. Empresas com soluções voltadas para gestão de negócios, gestão de talentos, área jurídica e tecnologia da informação também foram foco do programa. Startup Até 3 milhões em apoio financeiro.
Programas de Investimentos em Startup Ford Fund Lad I Ford parceria com a Artemisia Empreendedores com negócios inovadores focados em mobilidade que estivessem em etapa de validação de produto/serviço, no minimo com protótipo desenvolvimento até inicio das vendas, e que tivessem potencial de gerar impacto social em larga escala Startup Os participantes teriam acesso a “ferramentas inovadoras”, “conteúdos exclusivos” e mentoria com especialistas.
Fonte: ABGI A ABGI apoia as empresas na gestão estratégia de recursos financeiros e processos para inovação. Contamos com a parceria da Inseed Investimentos e  Inventta para a ampliar as oportunidades de otimização dos recursos financeiros. A Inseed é uma gestora de FIPs, focada em inovação early stage, estando a frente de fundos como Criatec I e Criatec III.  Tem R$ 500 milhões sob gestão, e mais de 15 anos de experiência em investimento em startups B2B com forte viés tecnológico. Somada a competência da Inventta, consultoria em inovação e estratégia, por meio da estruturação de corporate venturing, estamos preparados para apoiar as empresas em todo o processo de acesso aos recursos financeiros para inovação ou na diversificação de seus investimentos por meio de FIPs. Leia também a matéria sobre a possibilidade de destinação do investimento obrigatório em P&D de empresas dos setores elétrico e de óleo e gás, em FIPs.

Autora

Michele Soares é formada em  Ciências Contábeis. Na ABGI, atua em projetos de incentivos à inovação  (Lei do Bem e Inovar-Auto) em diversas empresas, tais como: Fiat Automoveis, PSA, Volvo, BMW, Hyundai,  Iveco , Anglo América, TechnipFMC , Energ Power, Oxiteno, entre outras.

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