O ABC Brasil captou R$ 525 milhões na primeira emissão de um “social bond” por um banco do país. Trata-se de uma letra financeira com prazo de cinco anos que será usada pela instituição para ampliar a oferta de crédito a pequenas e médias empresas e a companhias do setor de saúde.
A operação foi feita em parceria com o BID Invest, braço de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que ficará com os papéis até o vencimento.
“Com a pandemia, as áreas mais negativamente afetadas foram as PMEs [pequenas e médias empresas] e as empresas de saúde”, afirmou Gema Sacristán, diretora de investimentos do BID Invest, ao Valor.
Os papéis do ABC são a quinta emissão de “social bonds” de instituições financeiras fomentadas pelo BID Invest na América Latina. Nessas operações, que totalizam US$ 278 milhões, a agência faz uma checagem periódica para garantir que o dinheiro vai para a destinação combinada.
Os recursos vêm num momento em que o ABC procura impulsionar sua atuação no segmento de companhias de médio porte, com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões.
“Estamos expandindo nossas operações em PME e desenvolvendo ferramentas para alcançar esses clientes de forma digital. O dinheiro vai fazer diferença na nossa estratégia”, destacou José Laloni, vice-presidente de banco de investimento e de captação do ABC Brasil.
Pequenas e médias empresas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país; PMEs de qualquer região com crédito aprovado durante a pandemia ou que estejam com planos de expansão; e companhias do setor de saúde, de qualquer porte, são elegíveis a obter financiamento baseado no funding do “social bond”. Os recursos começarão a ser distribuídos ainda nesta semana, de acordo com o executivo.
O ABC Brasil encerrou o primeiro semestre com R$ 32,065 bilhões em sua carteira de crédito expandida. Desse montante, apenas R$ 932,1 milhões se referiam a operações com empresas do segmento chamado de “middle” – que apenas nos últimos anos começou a ser explorado pelo banco. O plano de crescer nessa faixa de clientes se manteve, apesar de as companhias de menor porte terem sido das mais atingidas pela crise.
Gema destacou que o BID Invest é um parceiro de longa data do ABC Brasil em transações financeiras, mas também ajuda a assessorar o banco em suas estratégias de financiamentos e investimentos sustentáveis. “Uma de nossas missões é contribuir com o desenvolvimento sustentável”, afirmou a executiva.
O ABC não revelou a taxa das letras financeiras que foram emitidas, mas, segundo Laloni, o custo é “competitivo”. No fim de junho, o banco apresentava uma base de captação de R$ 34,825 bilhões, dos quais pouco mais de R$ 8 bilhões em letras financeiras seniores e subordinadas.
Os títulos foram classificados como “sociais” com base em parecer da consultoria externa Vigeo Eiris, contratada pelo BID Invest. O banco de desenvolvimento também ampliou em US$ 50 milhões uma linha que mantém com o ABC para um programa de financiamento ao comércio exterior.
De acordo com Gema, o BID Invest também estuda a possibilidade de adquirir “socialbonds” que venham a ser emitidos por outros bancos brasileiros.
