Dada a contextualização prévia em nossos últimos materiais sobre os fundamentos das práticas ESG, este texto tem como objetivo aprofundar na especificidade da aplicação do tema em três setores específicos da economia: químico, mineração e energia.
O setor energético é o setor de maior avanço na temática, em termos de regulação e obrigatoriedade de investimentos em pesquisa, visto a necessidade urgente do mercado pela busca de novas matrizes energéticas e redução urgente das emissões de carbono. Os outros setores tiveram recentemente suas reputações questionadas e uma grande pressão do mercado para se adequar a práticas mais sustentáveis ambientalmente.
De maneira geral foi observado que os setores apresentam hoje demandas muito similares em termos de governança e social (as quais foram discutidas no último artigo). A grande diferenciação estará nos desafios de novos processos industriais para resolver a temática ambiental. Cada setor possui um desafio específico com uma tendência a ser pesquisada. Com isso abordaremos o caráter ambiental separadamente.
Mineração
Para o setor minerador, grandes empresas já trabalham com metas de zerar a emissão de carbono nos próximos 15 anos ao passo que empresas de menor porte ainda estão em 2022 estabelecendo suas métricas e desenvolvendo seus projetos para redução das emissões de gases. Há um forte movimento nesse setor na redução da emissão não só de gás carbônico, mas também de outros gases tóxicos de metais pesados ou compostos halogenados e sulfurados bem como outros mais voláteis oriundos dos processos de extração das minas. A reputação do setor tem sido negativamente afetada no que diz respeito à disposição de rejeitos, considerando os impactantes desastres ambientais ocorridos nos últimos anos.
Assim, um grande fator de estudo em inovação vem sendo o uso de novas tecnologias para monitoramento de barragens, assim como outras formas de dispor este rejeito. Alguns estudos em grandes universidades do país mostram um potencial do uso da escória do processo produtivo de alguns metais minerados no Brasil como Alumínio, Ferro e Ouro podem servir como insumos para outras indústrias de base ou produto acabado. Logo, há um movimento significativo em não apenas controlar os resíduos dispostos, mas também de reutilizar estes rejeitos de forma a reduzir sua quantidade nos depósitos. Em respeito ao passo ambiental, se buscam novas formas de reabilitar as áreas mineradas com estudos de reflorestamento e reabilitação do ecossistema como um todo.
A ideia é reduzir os impactos ambientais após a mina ser fechada. Outro tema relevante é o estudo de novas rotas de separação nesta indústria. De maneira geral, a indústria mineradora utiliza grandes quantidades de soda em seu processo, o que interfere na qualidade do resíduo liberado. Ao se reduzir o consumo de soda, também se reduz o risco do resíduo para lençóis freáticos, flora e fauna. As estratégias visam não somente a redução de impactos ambientais, mas também a otimização dos custos de produção. Os estudos para redução de resíduos com formação de produto comercial, por exemplo, além do impacto ambiental trazem um impacto econômico e movimenta a indústria ao gerar insumos para outros setores. Assim em mineração o fator “Enviroment” pode ser resumido em algumas grandes áreas: novos usos para rejeitos químicos do processo, recuperação de áreas mineradas e controle de emissão e gases estufa ou tóxicos.
Química
O principal desafio ambiental desta indústria é a redução do uso de solventes orgânicos em seus processos. O uso de água nas reações implica em diversas intempéries que a indústria ainda não sabe como resolver. Já era conhecido que solventes orgânicos são muito voláteis e são grandes precursores de gases tóxicos ao meio ambiente como os CFCs, agora há uma grande preocupação também com gases não condensáveis e poluentes cancerígenos como Benzeno, Tolueno ou Éter, altamente utilizados na indústria. Há uma grande tendência também na redução de plásticos oriundos do petróleo em uma sociedade onde a demanda de plásticos só aumenta.
Há então grandes linhas de pesquisa em plásticos biodegradáveis, não oriundos de petróleo, a fim de reduzir emissões de carbono bem como o uso de petróleo na cadeia produtiva. Assim, já são utilizados biopolímeros, plásticos oriundos de fibras naturais e outros análogos, que evitam a emissão de CO2 por serem de origem renovável. Um grande desafio ainda é manter o preço destes materiais competitivos, sendo aqui onde reside o grande esforço em inovação: desenvolvimento de novos processos que viabilizem a produção de plásticos sustentáveis. Uma área que tem ganhado campo neste contexto, é a conhecida QUÍMICA VERDE, que é o desenvolvimento de novos agentes e processos químicos e que reduzem o uso ou a geração de fórmulas tóxicas ao homem e meio ambiente.
Energia
Importante entender que o setor de energia é diverso, mas de maneira geral pode ser dividido entre elétrico e combustíveis. O setor de combustíveis ainda é muito dependente dos combustíveis fósseis e a uma tendência tecnológica é o estudo da produção de biodiesel. O grande desafio dessa produção é que as reações são lentas e com alta energia de ativação, o que deixa o processo inviável industrialmente. Assim, uma importante linha de pesquisa é a utilização de catalisadores heterogêneos na reação de biodiesel. Outras linhas nesta área estudam o sequestro do CO2 emitido e utilizado para produção de CO que é insumo para a indústria mineradora, onde é utilizado como agente redutor na produção de metais como Ferro e Níquel. Assim há a conversão de um resíduo nocivo para o ambiente em um insumo de valor agregado consumível. Neste contexto também são estudados diversos catalisadores e condições reacionais para viabilizar a solução.
Já no setor elétrico há uma emergente demanda na extinção das usinas de carvão. Na COP 26 os países participantes estipularam a meta de zerar o uso de minas de carvão até 2030. Uma visão ambiciosa. De maneira geral, novas fontes energéticas são tendência no País. Os planos do Brasil são de crescimento em energia Eólica e Solar, que devem somar até 2025 em torno de 20%, representando uma redução de 5% da geração de energia via hidrelétricas, principal fonte de energia no País.
Do ponto de vista de energia solar, as linhas de pesquisa estudam o desenvolvimento de novas placas solares com altos tempos de vida útil e com custos acessíveis para serem utilizadas em ambientes domésticos. Há uma demanda também pela criação de placas com armazenamento de energia para noite ou dias nublados. Estas soluções já existem hoje no mercado, porém o custo ainda é uma questão para a democratização da tecnologia, impactando não só o aspecto ambiental como social no setor. Outra alternativa é o uso de gases como o hidrogênio como fonte de energia gerando resíduos limpos, assim o setor energético pretende enfrentar a grande contradição técnica da área que reside em reduzir emissões de carbono com aumento da geração energética.
Considerações
Cabe ressaltar então que apesar de amplo, o conceito ESG é específico para cada setor da economia. Como já discutido previamente, se faz necessário o alicerce das práticas pela governança onde nos diferentes setores se observam as mesmas demandas. Porém, no que diz respeito a riscos de reputação e impacto imediato, a fração ambiental acaba sendo bastante significativa a curto prazo. O grande desafio acaba sendo como lidar com a mitigação de riscos ambientais emergentes a curto prazo, concomitantemente com uma preparação em governança que pode se estender a longo e médio prazo? Além disso além dos setores abordados, há a necessidade de se identificar quais as especificidades das práticas exigidas para cada diferente setor. Se você tem interesse em saber mais sobre o tema, consulte nossos próximos artigos, assista nosso podcast mensal sobre a temática ESG ou entre em contato conosco para uma conversa. Estamos à disposição para ajudar você e sua empresa a trilharem este caminho, seja em qualquer setor da economia.