
Tendo em vista o momento em que estamos vivendo devido a pandemia provocada pelo COVID-19, abordamos neste material os principais pontos discutidos durante a webinar “Meta Inovação: A transformação do jeito de inovar”, sobre o panorama da inovação, visão de presente e futuro, do ponto de vista dos participantes:
- Gustavo Mamão da Flourish, como mediador
- Bruno Moreira da Inventta Consultoria
- Maria Carolina Rocha da ABGI Brasil
- Renato Ramalho da KPTL
- Nathália Tavares da Troposlab
1 – Insights do estudo de impacto: a inovação não pode parar
A discussão do webinar começou com Bruno Moreira da Inventta apresentando o estudo A inovação nao pode parar, realizado pela Inventta e publicado em maio de 2020, que tinha como objetivo analisar o impacto que a crise do COVID-19 causou na forma como as empresas estão fazendo inovação, sendo abordados seis pontos:
- Os desafios que a crise trouxe para os esforços de inovação;
- Os impactos que a crise trouxe nos esforços de inovação;
- As boas práticas as empresas estão utilizando para passar pelo momento;
- Como que a inovação pode contribuir para o momento que a empresa está vivendo;
- A percepção, do ponto de vista dos entrevistados, de como estarão após a crise;
- Os principais aprendizados que as organizações tiveram no processo.
Algumas das principais constatações deste estudo apontaram que:
- A falta de previsibilidade de quando este momento irá passar, e como será depois, causou forte impacto no planeamento;
- Um dos principais desafios foi ajustar a mudança repentina do jeito de trabalhar (trabalho remoto, inclusive, para equipes envolvidas em PD&I);
- O foco atual está no curto prazo, com os esforços voltados para a parte de digital, canais, ajuste de produtos, etc;
- Houve uma necessidade urgente pela redução dos esforços de inovação por parte das empresas entrevistadas;
- Com a redução na intensidade dos esforços de inovação, os recursos foram redirecionados para outros aspectos do negócio;
- Por outro lado, houve a priorização das pessoas, tanto para as organizações que tiveram aumento de demanda, quanto as que tiveram redução;
- O resultado após a crise, pelo ponto de vista dos entrevistados, é de que as organizações terão uma maior capacidade de inovação. Dois grandes elementos corroboram com este aspecto: (1) aproximação da inovação com a estratégia da empresa; e (2) maior abrangência dos esforços inovativos, não estando limitados a uma área, e sim espalhada por toda a empresa.
2 – Pessoas: espaço para transformação cultural nas organizações
Para a Nathália Tavares da Troposlab, é importante para as empresas pensar no quão importante as pessoas são no processo de inovação. Diante de uma crise, a inovação normalmente gera incerteza, e uma certa resistência, mas são a chave para a superação.
“Realmente é tudo novo, nesse momento de crise e de tantas incertezas, é mais ainda complexo pensar no indivíduo dentro da organização. Mas ao mesmo tempo, as pessoas se tornam chave nesse processo de vencer e passar por esta crise, e obviamente, fazer que a empresa continue no mercado operando”, ressaltou.
Outros aspectos abordados, foram sobre como o momento acelerou o processo de digitalização nas organizações, mas nem todas estavam preparadas para esta mudança. O acesso a ferramentas e a canais digitais aumentou, mas existe ainda a necessidade de transformar a cultura destas empresas.
Destacamos duas questões em destaque:
- (1) desenvolver nos líderes a sensibilidade e a habilidade de liderar à distância, considerando as mudanças drásticas impostas pelo momento e considerar que estes líderes também foram afetados pela nova realidade;
- (2) as empresas devem estimular o comportamento das pessoas com foco no empreendedorismo para que a mudança na cultura possa ocorrer.
3 – Perspectiva de investimentos
Segundo Renato Ramalho da KPTL, as oportunidades aparecem quando se é tirado de sua zona de conforto, quando se é “chacoalhado”. Acredita que no médio e longo prazo muitas oportunidades positivas surgirão para todos os setores. A digitalização, o amadurecimento do P&D, transformações na cultura, todo o capital humano tende a se desenvolver mais rápido nestes momentos de maior desafio.
Foi perceptível a falta de digitalização por parte do governo para manter os serviços. Contudo, a crise trouxe uma série de investimentos em tecnologia para o governo e também do ponto vista de regulação.
Há setores que estão sendo menos impactados, como o caso do agronegócio, que precisou continuar seus esforços para abastecer o país, cada vez de maneira mais eficiente, buscando recursos e também de olho nos aspectos socioambientais.
4 – Recursos financeiros
Quando foram surpreendidos pela crise do Covid-19, Maria Carolina pontuou a primeira ação da ABGI, que tem como missão alavancar a inovação nas empresas por meio de recursos financeiros, foi conversar com o governo e órgãos de fomento.
“Identificamos as oportunidades de fomento, principalmente, as agendas do governo que estavam ativas no planejando de curto prazo, visto que as empresas estavam preocupadas principalmente com a manutenção de seu capital de giro.”
O momento foi de alinhamento com as principais agências de fomento do Brasil para questionar se a inovação ainda permanecia na pauta e se os recursos com este objetivo estariam disponíveis.
Os recursos financeiro são importantes, inclusive, para que as organizações possam se reerguer e recomeçar, mas também reforçou que a inovação também precisa ter foco no médio e longo prazo.
Apesar dos recursos financeiros terem siso mantidos para este momento, observa-se redução na disponibilidade dos recursos públicos nos últimos anos, e ficando cada vez mais competitivo. Com vista a esta situação, é necessário refletir como o ambiente privado pode ser mais engajado e participativo dentro desse processo.
Na busca por novas alternativas, a ABGI começou a estudar sobre os Green Bonds (Títulos Verdes), que são títulos de dívidas voltados para projetos de sustentabilidade.
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5 – Como a iniciativa privada pode ser mais propositiva
Maria Carolina afirma, que com o momento os investidores estão mais racionais no que investir, com um foco diferenciado, e também mais criteriosos em buscar projetos que tragam retorno para a sociedade e para a economia. Os Green Bonds podem ser oportunidades interessantes para viabilizar esse tipo de projeto e obter retorno no investimento.
E acreditando no poder da inovação e de projetos sustentáveis, os investidores privados tem um papel diferenciado e podem ser protagonistas na hora de avaliar também o impacto econômico-social das ações.
6 – Estratégia de inovação
Bruno Moreira conceitua a inovação como: o resultado do esforço que você faz para mudar uma proposta de valor que você tem, seja em um produto, seja em um negócio, seja em uma área. Uma certeza para o mundo pós pandemia é que não será igual e podemos perceber algumas pistas que aproximam a inovação da estratégia das empresas.
- Do ponto de vista do consumo, tudo será mais digital, ainda por um período será realizado de forma isolada e o trabalho ocorrerá de forma remota;
- A crise irá gerar uma reconfiguração das cadeias de valor;
- As mudanças que irão ocorrer no mundo em termos de mercado, consumo e negócio, exigirão muita inovação por parte das organizações;
- Dentro do novo contexto, a inovação deve ser o cerne da estratégia da empresa.
7 – Papel da colaboração
A colaboração, segundo Nathália Tavares, já é um movimento perceptível no mercado. As empresas estão percebendo que enfrentar os desafios juntas traz oportunidades de inovação.
- A colaboração dentro das empresas, entre setores que antes não interagiam;
- A colaboração entre empresas dentro de uma mesma cadeia;
- A colaboração com empresas de outros setores em prol de algo;
Um dos aprendizados que esta crise nos trouxe é que o trabalho pode ser muito melhor em colaboração. O potencial de trabalhar juntos, característico da cultura brasileira, está sendo muito desenvolvido e tende a ser contínuo.
Maria Carolina complementa, que quando se avalia os instrumentos de fomento disponíveis, alguns já apresentam de forma moderna, o apoio formal para a criação de parcerias para desenvolvimento de projetos de inovação. O Open Innovation, ou inovação aberta, passa a ter mais sentido para as organizações, pois várias competências juntas podem trazer melhores resultados.
8- O jeito de pensar das startups
As grandes empresas devem aprender muito com as startups, contudo, Nathália Tavares, afirma que tudo deve ser adaptado ao contexto da empresa, deve-se atentar que:
- Adaptações que precisam ser feitas, não é copiar e colar o modelo da startup na grande empresa, pois são contextos diferentes.
- Respeitar os elementos de cultura da organização, seus objetivos, seu foco de inovação, o quanto as pessoas estão dedicadas (dedicação maior ou menor à inovação).
- As adaptações não são apenas no uso destas ferramentas e metodologias, mas também em seus controles. Devem ser checados os aspectos que estão rodando bem e os que não estão.
- As equipes precisam ser preparadas para receber as novas ferramentas e metodologias. Preparadas tecnicamente e também em relação ao comportamento para receber o novo processo que totalmente novo ao que já estava acostumado.
9 – Incorporação de startups e mudanças na cultura
Renato Ramalho afirma que o modelo de incorporação de startups por grandes empresas tem funcionado bem e deve se manter por algum tempo. Talvez não tenha a capacidade de mudar a cultura da organização, pois estas mudanças acontecem de forma bem particular e em um ritmo único para cada organização, de acordo com o tamanho da iniciativa, do tamanho do ativo que a corporação está absorvendo da startup.
Este modelo é uma das alternativas para se inovar com rapidez e eficiência para grandes empresas, desde que se faça um bom trabalho de seleção e um bom processo de incorporação.
10 – Organizações com propósito
Reflexão sobre o papel das organizações e como deve ser mais abrangente do que apenas comercial. As organizações não devem tentar suprir o papel do governo, mas devem reavaliar suas relações, seja com seus fornecedores, clientes e colaboradores. Isto é, avaliar e entender o impacto da empresa na sua sociedade como um todo, de forma a ser mais humana.
Hoje as empresas que conseguem articular de forma mais sistêmica o benefício para todo o seu público, acabam saindo melhor de crises como a que passamos atualmente.
Quanto mais a organização fortalece o seu propósito e entende o seu papel sistêmico, há maior aproximação das camadas:
- Inovação;
- Responsabilidade Social;
- Sustentabilidade;
- A inovação com o papel chave de ligar todos os pontos.