
Dispêndio em P&D do setor e sua porcentagem em relação a receita (R$ mil e %, 2001 – 2014)

Os dispêndios em inovação para a PINTEC podem ser realizados nas seguintes atividades: atividades internas de PD&I; aquisição externa de PD&I; aquisição de outros conhecimentos externos; aquisição de software; aquisição de máquinas e equipamentos; treinamento; introdução das inovações tecnológicas no mercado; projeto industrial, e outras preparações técnicas. É interessante notar que pode-se perceber que a alocação dos dispêndios em PD&I da indústria farmacêutica muda ao longo dos anos.
A proporção dos dispêndios em atividades internas, cresce significativamente, de 15% em 2003 para 54% em 2014. A partir de 2008, esta atividade passa a figurar como a principal categoria de dispêndio em P&D, ao invés da aquisição de máquinas e equipamentos. Essa atividade, apesar de ainda receber uma alocação de recursos importante, tem perdido sistematicamente sua relevância. Isto pode ser um indicativo de que a indústria farmacêutica brasileira foi capaz de absorver os incentivos para modernização de seus processos produtivos, muitos deles baseados em recursos para compra de equipamentos mais modernos e adequação das instalações, e agora pode investir do desenvolvimento e internalização de atividades que exijam maior conhecimento técnico e com maior grau de risco.
Histórico da distribuição dos dispêndios com PD&I (%, 2001 – 2014)

A fonte dos recursos utilizados nos dispêndios é majoritariamente capital próprio das empresas, mas elas têm utilizado cada vez mais capital de terceiros, seja recursos públicos via apoio governamental, privados e do exterior. De todos estes, o principal recurso de terceiros utilizado é público.
O número de empresas que recebeu apoio do governo salta de 52 em 2003 para 128 em 2014. Isto pode ser resultado do grande número de programas e mecanismos disponíveis para apoio a este setor, por exemplo, o BNDES Profarma opera desde 2004. Em 2014, 60,4% das empresas do setor que inovaram utilizaram algum tipo de apoio do governo.
Porcentagem das empresas que receberam apoio do governo em relação às empresas inovadoras no setor de farmoquímicos e farmacêutico (%, 2001 – 2014)

O apoio do governo pode se dar por meio de incentivos fiscais a P&D, subvenção econômica, financiamento a projetos com e sem parceira de universidades, financiamento a compra de máquinas e equipamentos, dentre outros. As empresas do setor vêm utilizando cada vez mais os incentivos fiscais a P&D, sendo que ele quintuplicou desde o lançamento da Lei do Bem em 2005, atingindo 42% em 2014. Este dado permite uma observação importante que, já que para utilizar o benefício em um determinado ano a empresa não pode ter prejuízo fiscal, o setor navegou bem por anos reconhecidamente de crise, como entre 2008 e 2009. Além disto, um tipo de apoio amplamente utilizado pelo setor é o de financiamento a projetos em cooperação com universidades de outros centros de pesquisa. Esta é uma característica marcante do setor, no qual muitas das moléculas inovadoras são geradas de pesquisa realizada em centros de pesquisa que posteriormente são absorvidas pelas empresas que fazem sua introdução no mercado. Além disto, de modo geral, os órgãos públicos de fomento incentizam este tipo de projeto que envolve a formação de redes entre diversos atores como a academia e empresas de diferentes portes e até setores, que além de cooperar compartilham o risco do desenvolvimento, e cujo potencial para difusão do conhecimento e da inovação é alto.
Valores relativos do tipo de apoio do governo utilizado pelas empresas inovadoras do setor farmacêutico (%, 2001 – 2014)

Em resumo, fica claro que o governo é um importante parceiro das empresas farmacêuticas que desejam inovador e um elo chave do sistema de inovação neste setor. A análise dos dados da PINTEC permite observar a trajetória de desenvolvimento deste setor, que conta não só com unidades brasileiras de grandes industriais multinacionais, mas também com indústrias nacionais que vem se fortalecendo cada vez mais no mercado.
Uma análise mais crítica dos dados da PINTEC e do sistema de inovação farmacêutico brasileiro pode ser encontrada na dissertação “Financiamento público ao sistema setorial de inovação farmacêutico brasileiro” de Luiza Pinheiro Alves da Silva, doutoranda em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica pela UFMG, disponível neste link.
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Autora
Luiza Pinheiro Alves da Silva é doutoranda no programa de Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica pela UFMG, e atua como Especialista em Inovação Independente. Tem experiência em estratégia de inovação, inteligência de mercado, identificação de oportunidades e estruturação de projetos de financiamento à inovação, inclusive já fez parte da equipe da Inventta+bgi. Também foi mentora de startups do programa SEED e agente de aceleração no programa BioStartup Lab.