Para entender a realidade da inovação nas empresas brasileiras e encontrar benchmarkings positivos, a ABGI já entrevistou empresas de vários setores, e a CNH é um cliente que acompanhamos há muito tempo na Lei do Bem, e pudemos acompanhar seu amadurecimento.

Para compartilhar sobre as iniciativas de inovação, conversamos com Carlos Visconti, Gerente de Inovação de Produto da CNH Industrial para a América do Sul. CNH é uma empresa multinacional que atua na fabricação de equipamentos de construção, agrícolas e veículos comerciais, equipamentos marítimos e motores. É a segunda maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo.
O que é inovação para a empresa?
Inovação faz parte da agenda estratégica da CNH Industrial, é uma de nossas três maiores prioridades. Pensamos em inovação como uma jornada, algo a ser construído diariamente, a todo momento e por todas as pessoas. É por isso que a CNH Industrial busca ter continuamente um ambiente que estimule a inovação e que valorize a participação de todos, onde a colaboração e cooperação interna são mais importantes que a competição.
Trabalhamos a inovação em conformidade com os desafios de produção e modo de vida do futuro, visando boas práticas, valor agregado, pioneirismo e competitividade. Na CNH Industrial, inovação não é voltada apenas para o desenvolvimento de novas tecnologias. Ela é também voltada para a melhoria da experiência do cliente, criando valor nos processos, produtos e nas soluções que são entregues. Trabalhamos com métodos, disciplina, benchmarking, treinamento e muito foco em um novo jeito de fazer negócios, um novo olhar para a atividade produtiva e empresarial.
Há uma área dedicada a inovação? Como está estruturada?
Sim, existe uma área dedicada a gestão do sistema de inovação a nível global, mas que acima de tudo coordena a definição da estratégia, cultura, governança, processos e ferramentas de inovação junto com o Comitê Executivo da empresa.
Por outro lado, como acreditamos que a inovação é feita por pessoas, com uso da diversidade e a inclusão como alavanca de geração de ideias, e que qualquer um pode fazer parte de um processo disruptivo de criação de novas soluções – desde que esteja em um ambiente que estimule e apoie o surgimento de novas ideias – o que temos é um comitê multifuncional de inovação, com representantes dos diversos segmentos e funções da Companhia, que fomenta o processo em todas as áreas. Esse comitê coloca em prática essa estratégia extraindo do Plano Estratégico da Companhia as “Innovation Target Areas”, que cobrem as tecnologias e processos prioritários no qual os times de Produto e Digital devem atuar para prover as soluções alinhadas com os desafios de cada segmento de mercado.
A partir dessa linha, projetos e times de trabalho são criados para desenvolvimento e implementação de ideias nas diversas áreas, priorizando as soluções focadas nos clientes externos e internos, utilizando diversas técnicas como Design Sprint, Design Thinking, FabLab, 4 Lenses of Innovation, entre outras. A implementação ocorre por meio de recursos próprios da CNH Industrial ou, como em vários casos, através de Open Innovation, envolvendo uma ampla rede externa de colaboração (entidades de fomento, parcerias com universidades, institutos etc).
Especificamente para a parte de inovação de produto, a CNH Industrial possui linhas de desenvolvimento de produtos espalhadas pelas regiões onde atua, Europa, Américas e Ásia. A distribuição dessas linhas é importante para que a empresa consiga trabalhar no desenvolvimento da inovação pensada para atender as demandas específicas daquela região que podem variar de acordo com especificidades climáticas e de lavouras predominantes, por exemplo.
Ainda assim, é importante ressaltar, que há um alinhamento entre essas linhas de produção, que promovem a troca constante de ideias e aprendizados entre elas.
Além disso, para cada segmento específico que a CNH Industrial atua há uma iniciativa estruturada de inovação que recebe todo o suporte da área exclusiva.
Como mantém o foco e o engajamento de toda equipe para a inovação?
Temos diversas iniciativas internas para incentivar e estimular os colaboradores a encontrarem oportunidades, desenvolverem novas ideias e gerarem resultados. Essas iniciativas envolvem todo o nosso pessoal, não apenas a liderança.
Como exemplo temos a semana de inovação. Realizada anualmente em todas as unidades da empresa desde 2015, a iniciativa consiste em uma série de ações para incentivar a “cultura” de inovação dentro da corporação, como palestras e workshops com foco em novas metodologias, tecnologias e ferramentas, em cases de sucesso e motivação. Outro exemplo é o programa Multiplicar, que incentiva os colaboradores experientes a compartilharem suas competências individuais e técnicas com os demais colegas, favorecendo o aprendizado contínuo e a multiplicação de informações e experiências.
Além desses, temos o Programa de Patentes, no qual os colaboradores podem compartilhar, em uma plataforma online, novos projetos que são avaliados pela empresa e podem gerar uma remuneração como premiação aos que forem submetidos ao INPI; e há também outros como o Innovation Tech day, o StepUp, o GO!, a StartUp interna, entre outros. Todas essas iniciativas nos ajudam a usar o que temos de melhor e mais eficaz para promover a inovação: as pessoas, a inteligência coletiva. Foi assim que nos tornamos uma das dez empresas mais inovadoras do País, com propositividade das lideranças e engajamento dos colaboradores.
Como lidam com os riscos relacionados ao desenvolvimento de projetos inovadores?
Entendemos que o risco é parte inevitável do processo de inovação. Para excelência na gestão da inovação, nosso time busca sempre estudar o cenário, entender as necessidades dos clientes e do mercado, identificar as tendências, se relacionar com os clientes e alinhar os trabalhos com os parceiros e fornecedores e, como não poderia deixar de ser, assumir os riscos.
Para a CNH Industrial, a tolerância a erros faz parte da rotina de inovar, mas, claro, estamos sempre trabalhando para minimizar esses erros e reduzir ao máximo os riscos de cada projeto. Para isso, desenvolvemos etapas dentro dos planos de inovação – como a etapa de testes conceito – que servem para analisar se determinada inovação deve ou não ir para a frente naquele determinado momento.
É frequente a realização de projetos em parceria como universidades, ICTs ou startups?
Sim. Possuímos inúmeras parcerias com universidades, empresas e ICTs e estamos sempre atentos a possibilidades de novas parcerias para aumentar ainda mais o nosso network. Também estamos buscando aumentar nossas parcerias com startups. Além disso, todas as nossas marcas estão abertas a trabalharem com parcerias e apoio nas frentes de inovação dos quatro setores em que atuam: agronegócio, transportes, energia e construção.
Quais são os principais desafios para a empresa inovar no Brasil?
Nos últimos anos inovação virou uma palavra ‘da moda’. Na CNH Industrial, muito antes de se tornar uma tendência, trabalhávamos com iniciativas internas de incentivo à inovação e com parcerias que nos ajudam a viabilizar nossos projetos inovadores. Com isso, aprendemos a driblar os desafios de se inovar no Brasil e em outros países do mundo onde também atuamos.
Aqui, hoje, acredito que o maior desafio seja conseguir uma interação ainda maior da empresa com universidades e startups. Há uma burocratização na criação dessas parcerias que dificulta e atrasa todo o processo de inovação.
Esse desafio tem sido amenizado com o auxílio dos ICTs, mas ainda é algo que pode ser melhorado.
Qual é a contribuição dos recursos financeiros para alavancar os projetos?
A CNH Industrial recebe incentivos governamentais de fomento à inovação. São eles: BNDES, CNPq, EMBRAPI, FINEP, Lei do Bem, SENAI, Sistema FAPs, Rota 2030, Paiss Agrícola e FUNDEP.