A área de Compras em uma empresa tem papel fundamental no alinhamento estratégico da organização como um todo, que influencia diretamente nos resultados. A Função Compras é tratada como um procedimento pelo qual as empresas determinam itens a serem comprados, identificam e comparam os fornecedores disponíveis, negociam com as fontes de suprimentos, firmam contratos, elaboram ordens de compra e, finalmente, recebem e pagam os bens e serviços comprados. Essas atividades visam garantir um fluxo contínuo de suprimentos, a fim de assegurar que o planejamento da produção seja realizado.
Durante muito tempo esse foi considerado um setor que realizava somente atividades de caráter tático e de cunho administrativo, com processos operacionais e tarefas rotineiras, baseando a escolha do fornecedor em preço, qualidade e entrega. Contudo, estudos recentes apontam que departamentos de Compras focados em atividades rotineiras de baixo valor agregado podem comprometer o alcance dos objetivos estratégicos de uma empresa, e deve atuar de forma integrada com outros setores em busca de objetivos em comum, assumindo também um posicionamento estratégico.
Contribuindo para inovação
Considerando a inovação como fundamental para que as empresas atinjam vantagens competitivas no mercado, os fornecedores têm papel importante no desenvolvimento tecnológico de novos produtos, processos ou serviços. Isso porque o desenvolvimento de um novo produto, processo ou serviço possui um alto grau de incerteza e por isso, demanda de alguma forma a colaboração ou parceria entre fornecedores e fabricantes. Assim, é necessário que as empresas tenham acesso a conhecimentos externos.
De acordo com Soda (2011), “a inovação não é gerada somente por recursos que uma empresa é capaz de desenvolver internamente, mas também através do acesso de recursos e de capacidades de organizações externas, que a empresa pode acessar por meio de alianças e de acordos de cooperação”.
Assim, o processo de colaboração reduz os riscos do desenvolvimento tecnológico e o tempo de desenvolvimento de um novo produto, uma vez que os fornecedores auxiliam no desenvolvimento de tecnologias necessárias para o produto em questão. Em pesquisa realizada por Powell (1998), a colaboração interorganizacional proporciona melhores resultados de inovação se comparada às empresas que trabalham individualmente.
Além do conhecimento externo que é adquirido, quando uma empresa tem em sua cadeia de suprimentos fornecedores que também investem em inovação, implica em matérias-primas de melhor qualidade, e consequentemente, um produto final mais competitivo.
Casos de sucesso
A BMW tem a inovação como um de seus pilares de sustentação, e considera como essencial para garantir sucesso econômico e competitividade no futuro, uma vez que para enfrentar os desafios da indústria automotiva, é necessário alcançar alto nível de criatividade e inventividade.
De acordo com Klaus Drager, membro do conselho de administração e responsável por compras e rede de fornecedores do grupo, “a inovação é fator-chave no nosso papel de pioneiros em moldar a mobilidade do futuro” e considera que manter um relacionamento próximos com os fornecedores é extremamente importante.
Em um estudo de caso realizado na Embraer, viu-se a importância dos fornecedores no desenvolvimento de uma nova aeronave. Por causa de grandes dificuldades financeiras para alcançar escala industrial, a Embraer associou-se à fornecedores e firmou uma parceria de risco, na qual o fornecedor assume riscos financeiros na fase de desenvolvimento dos projetos e participa dos resultados. Assim, os parceiros de risco ajudaram no financiamento do projeto e em troca, poderiam ter exclusividade no fornecimento. Nesse caso, o fornecedor entrou com o investimento e a Embraer com a tecnologia.
Em outro programa de parceria da Embraer, foi o contrário. A empresa brasileira estava em situação financeira melhor e a capacitação tecnológica foi um dos principais norteadores na escolha dos fornecedores. A quantidade de parceiros foi maior, mas o principal requisito era ter fornecedores que dominassem a tecnologia fornecida e fossem integradores do sistema. Os dois programas são apenas alguns exemplos da relação que a Embraer estabelece com seus fornecedores, mas esse relacionamento depende de diversos fatores e de qual o objetivo final da empresa no desenvolvimento de um produto. Assim, pode-se concluir que não há uma única forma de escolher os fornecedores, pois para cada produto há inúmeras condições que interferem e esta deve ser baseada na estratégia que a empresa está adotando para o desenvolvimento de certo produto. Apesar das inúmera variáveis que interferem nessa escolha, há alguns requisitos básicos que sempre devem ser levados em conta, como saúde financeira da empresa, certificações e incentivos fiscais.
Como alavancar a inovação
A Lei do Bem é o maior incentivo fiscal para a inovação do Brasil, a qual visa melhorar a competitividade das empresas nacionais para que estas invistam em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). Este é um incentivo multisetorial que proporciona uma recuperação fiscal de 20,4% a 34% dos gastos com PD&I. Estes gastos envolvem fornecedores (micro e pequenas empresas, Instituições de Pesquisa, Universidades), salários, insumos e viagens nacionais, entre outros.
A Lei do Bem, apesar de ser um incentivo voltado para empresas de grande porte, beneficia indiretamente também as micro e pequenas empresas, pois a contratação dos serviços dessas podem entrar no cálculo do incentivo. Por isso, as grandes empresas que priorizam esses serviços possuem uma certa vantagem no momento em que é feito o cálculo do incentivo fiscal.
Veja também: A Lei do bem como estratégia de fortalecimento da inovação nas empresas
Levando em consideração os aspectos citados, percebe-se que a escolha dos fornecedores é complexa, e não pode ser baseada apenas em um critério. Dessa forma, é preciso analisar com cuidado quais são os critérios que devem ser decisivos para a escolha de um fornecedor de determinado produto ou serviço. Por exemplo, pode ser que um fornecedor com menor custo seja melhor para um determinado produto, mas um fornecedor que entregue a matéria-prima no menor tempo seja melhor para outro produto.
Ao mesmo tempo, um fornecedor que tenha domínio sobre uma tecnologia específica para o desenvolvimento de um novo produto, pode ter vantagem sobre um fornecedor que oferece menor custo, assim como um fornecedor que esteja se capacitando sobre determinada tecnologia pode ser mais interessante do que o fornecedor que entregue a matéria-prima no menor tempo. Assim, a estratégia na qual se vai adotar deve ser muito bem ponderada, a fim de que a melhor escolha seja feita.
Autora:
Marina Garcia é graduanda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São João del Rei. Na ABGI, atua em projetos de Lei do Bem, sendo responsável pela parte técnica da metodologia, que consiste em identificar os projetos de inovação dentro das empresas.