A gestão da tecnologia e do conhecimento será o pilar da competitividade do novo milênio. Porém, para a maioria dos países em desenvolvimento esse processo permanece como um grande mistério. Como resolver esse impasse? Como encarar esse desafio?
Em seu artigo, Levindo Santos discorre sobre o desafio do novo milênio – a gestão da inovação tecnológica – contextualizando o ambiente brasileiro, traçando um paralelo com países desenvolvidos e apontando direções para enfrentar esse desafio.
Qualquer leitor minimamente informado não terá dificuldades em reconhecer a legitimidade da seguinte afirmação: “A inovação tecnológica consistente é a chave para garantir competitividade e liderança de mercado”. Países de economia emergente como Índia e China têm dado uma demonstração evidente de que a gestão da tecnologia e do conhecimento será o pilar da competitividade do novo milênio.
Modelo de inovação
Neste contexto, cada nação tem buscado estabelecer um modelo próprio de gestão da inovação, pautado principalmente por suas competências, pela infraestrutura de P&D já existente e pela percepção de oportunidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, este caminho começou a ser percorrido ainda no início do século XX. Hoje, universidades com notoriedade em produção científica reconhecem a “geração de riquezas para a sociedade” como parte formal de sua missão.
A riqueza em questão materializa-se, na maioria dos casos, através da transferência tecnológica a empresas já constituídas ou, como é bastante frequente, para novas empresas criadas por empreendedores-cientistas especificamente para receber as tecnologias desenvolvidas nos laboratórios universitários. Hoje, a relação entre universidade e mercado representa a base do chamado “ciclo virtuoso de desenvolvimento norte-americano”. Só no Massachussets Institute of Technology, mais de 4.000 empresas de alta tecnologia foram criadas desde 1940, empregando atualmente mais de 1,1 milhão de pessoas, e com faturamento combinado de mais de US$ 200 bilhões ao ano.
Entretanto, para a maioria dos países em desenvolvimento o processo de geração de riqueza através da inovação tecnológica permanece um grande mistério; um paradigma distante de ser quebrado. No caso do Brasil, os desafios são ainda imensos.
Desafios de inovação do Brasil
Para começar, é notória a falta de comprometimento e de experiência da maioria de nossas empresas com atividades de pesquisa, desenvolvimento e empreendimento tecnológico. Além disso, mais de três quartos do nosso conhecimento científico de ponta residem em universidades e centros de pesquisa ligados ao poder público, onde o pensamento reinante insiste em limitar suas responsabilidades à geração de conhecimento acadêmico e à formação de profissionais para o mercado de trabalho.
É fato que temos avançado em diversas frentes, diminuindo barreiras legais e fomentando um ambiente culturalmente menos hostil a uma efetiva colaboração entre universidades e empresas. Mas o ritmo destas mudanças ainda é insatisfatório. E como tempo e tecnologia possuem uma relação naturalmente perversa, é importante que avancemos rapidamente. Nesta discussão, devemos nos concentrar em determinar “como” universidades e empresas brasileiras deverão se relacionar para garantir um processo perene e bem-sucedido de criação de riquezas através da gestão de nossas inovações tecnológicas.
Assim, as perguntas relevantes passam a ser: Quais as áreas do conhecimento a que deveremos nos dedicar prioritariamente? Qual o nível de compromisso formal que se deve buscar da pesquisa científica universitária neste processo? Qual o papel e comprometimento das empresas? Qual o modelo econômico justo e eficiente deste relacionamento? Como permitir que a “nova academia” continue também desenvolvendo as “pesquisas básicas”, tão fundamentais ao desenvolvimento científico em geral?
Visão de oportunidade
Queiram ou não nossos doutores e empresários, trata-se de um processo inexorável, e deve ser abraçado, quer seja por um sentimento legítimo de oportunidade, ou, no mínimo, por uma questão de mera coerência e responsabilidade. De outra forma, correremos o sério risco de perdermos novamente o trem da história.
* Levindo Santos é professor do Ibmec/MG, possui MBA pela Northern Arizona University, é sócio-diretor da Jardim Botânico Partners e da Empresa de Assessoria e Consultoria Araújo Fontes.